Por Renata Braga Pasini CRP 05/39471

O termo parentalidade é empregado substituindo maternidade ou paternidade, para se referir aos responsáveis pela criança. Quem geralmente está nessa função é o casal parental, mas nada impede que outra pessoa seja o responsável pelos cuidados e educação da criança.

Esse termo é relativamente recente, e coloca ambos os pais em condições iguais no que se refere as responsabilidades com os filhos.

Na organização familiar antiga, as funções de pai e mãe eram bem delimitadas, os pais ficavam com o chamado mundo público, responsáveis por trabalhar fora, sustentar financeiramente a família e oferecer segurança; e as mães ficavam, no ambiente privado, com as tarefas domésticas e cuidados com os filhos. E portanto, o termo maternidade era utilizado para designar as responsabilidades com os cuidados dos filhos.

Mas, ao longo do tempo muita coisa mudou: as relações familiares e afetivas, as formas de união, o trabalho, a economia e entre outras coisas. Nas famílias atuais, as funções não são mais delimitadas, e a as mulheres conquistaram muitos direitos, inclusive o acesso ao mundo público e ao mercado de trabalho, e sua participação no sistema financeiro familiar virou lugar comum.

Ter acesso ao trabalho foi um importante movimento de independência feminina, mas logo isso virou um imperativo, gerando até preconceitos sobre a mulher que não trabalha fora, ou seja, remuneradamente. Afinal, sabemos que as mulheres sempre trabalharam, de diversas formas, o mais comum de ver na nossa cultura é o trabalho doméstico, e não remunerado, ou mal remunerado. 

No mundo capitalista, essa forma de trabalho é vista como um gesto natural de dedicação e confundido com amor, e logo, como algo que não deve ser recompensado, ou valorado. Essas atividades só são vistas, quando a mulher não está na função, e várias pessoas são contratadas para essas elas (babás, diaristas, motoristas, etc.).

Embora atualmente, ambos os pais trabalhem fora, e as responsabilidades nos cuidados das crianças seja do casal, pesquisas apontam que muitas famílias se organizam nos modos arcaicos, e mesmo quando as mães trabalhando fora, ficam, preponderantemente, com as responsabilidades sobre a criança e as tarefas domésticas. A participação do homem, ou do pai nos cuidados com os filhos e com a casa ainda é pequena, e as mulheres acabaram ficando sobrecarregadas com o acúmulo de funções. Isso porque no imaginário social ainda existe a crença de que a casa e os filhos são responsabilidade da mulher, cabendo ao homem prover financeiramente a família.

Algumas mães também mostram resistências em abrir mão do monopólio da maternidade, mesmo que ainda reivindiquem maior participação dos homens nas tarefas domésticas e cuidados dos filhos. Isso porque, historicamente, as mulheres se constituíram com essa função, que foi uma conquista de um importante lugar social. E foi assim que as mulheres passaram a se estruturar e fundar sua subjetividade, num “empoderamento” aprisionado na tarefa do cuidar.

Estudos apontam que outro fator que prejudica o exercício igualitário da parentalidade são as diferenças salariais entre homens e mulheres, fazendo com que a baixa remuneração das mães influenciem em sua dedicação aos filhos e atividades domésticas.

A parentalidade é uma construção singular de cada mãe e cada pai, de acordo com a história de cada um. Mas também uma construção cultural e social. Por isso, precisamos que outras mudanças acompanhem o ritmo das novas organizações familiares e sociais, que os homens participem mais da vida dos filhos, o que já vem acontecendo, mas ainda muito timidamente; e de politicas públicas que acompanhem esse movimento, como equiparação salarial e licença parentalidade (igual para o casal parental), entre inúmeras outras que poderíamos pensar.

Devemos ressaltar a importância da divisão igualitária das funções na atual parentalidade, pois além de se evitar a sobrecarga materna, e adoecimento da mulher, é um fator de proteção ao desenvolvimento sadio da criança, futuro sujeito, e nosso futuro cidadão.

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Referências:

Borsa, Juliane & Tiellet-Nunes, Maria-Lucia. (2011). Aspectos psicossociais da parentalidade: O papel de homens e mulheres na família nuclear. Psicologia e Argumento. 29. 31-39. 10.7213/rpa.v29i64.19835.

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