POR LARISSA SILVA AMARAL
CRP 03/19109
“Quando nasce um bebê, nasce uma mãe”. Frequentemente ouvimos essa frase, mas acredito que ela não expresse toda a particularidade e complexidade referente ao que realmente acontece com uma mulher quando nasce um bebê.
É verdade que quando nasce um bebê, nasce uma mãe, mas mais do que isso, nasce também uma nova mulher. E indo mais a fundo na questão digo que quando nasce um bebê, morre uma mulher. Sim. Porque aquela mulher que éramos antes do bebê nascer nunca mais existirá. Trazemos sim muito dela, mas muito também se perderá. Não conseguiremos mais ver o mundo com os mesmos olhos e muito menos viver na mesma maneira que vivíamos antes da maternidade.
Então quando essa mulher que éramos antes morre, renasce uma nova mulher e essa mulher agora é mãe. O mundo dela não é mais o mesmo e o mundo para ela nunca mais será o mesmo. Começamos a ser vistas pela sociedade, familiares e amigos, com outros olhos. Somos exigidas, cobradas, criticadas e punidas por não cumprir minimamente as exigências sociais no que se refere aos cuidados com os filhos. Mesmo que essas exigências não passem de tradições sem base científica ou simplesmente não representem o que de fato queremos para os nossos filhos. E nos damos conta de que coisas que antes talvés não incomodavam tanto, como palpites, certas companhias e certos lugares, passam a incomodar a ponto de querermos evitar a todo custo os transtornos advindos dessas experiências.
E esses são só alguns dos pontos que nos fazem ver e viver o mundo de outra maneira. Porque as transformações físicas, emocionais e psíquicas e também sociais que começamos a experimentar ainda durante a gravidez, se tornam muito mais intensas no pós-parto.
Logo que o bebê nasce, estamos ainda vivendo no olho do furacão chamado puerpério. Esses primeiros dias após o nascimento do bebê podem até ser mais tranquilos para algumas mulheres, mas para a maioria de nós pode ser extremamente difícil, doloroso, sufocante, solitário e insano. É um choque de realidade tão grande quando nos damos conta de que ser mãe não é nem de longe parecido com a visão romantizada que nos contaram. Ficamos em alguns momentos tentando entender o que está acontecendo, porque parece que um trator passou por cima de nós e ainda estamos tentando entender o que está acontecendo.
Sem contar que as nossas mudanças atuam tão intensamente em nossa mente que podem mudar completamente a forma como nos vemos. Causando um certo estranhamento e um não reconhecimento ao nos olharmos no espelho ao a nos depararmos com situações que antes faziam total sentido para nós e que passam a não fazer sentido nenhum ou vice versa. Começamos a perceber que tanta coisa mudou. E no meio desse turbilhão de novas descobertas, ainda estamos lidando com as necessidades de um serzinho que depende completamente de nós para sobreviver. Enfrentando a privação de sono, o cansaço extremo, a falta de tempo para as coisas mais simples como comer, tomar banho ou simplesmente dormir. Loucura né?
E o tempo vai passando. Passam-se dias, meses, anos. E a busca pela identificação com essa nova mulher vai acontecendo gradativamente, um pouquinho a cada dia. Uns dias descobrimos mais coisas, em outros mal temos tempo para sobreviver. Mas não podemos desistir. Porque todas essas experiências intensas e transformadoras que a maternidade nos proporcionam, fazem emergir de dentro de nós uma mulher incrível, potente, forte, resistente, renovada, maravilhosa e em constante processo de redescoberta e reconstrução.
E o seu processo de auto descoberta após a maternidade, como tem sido?