POR LARISSA SILVA AMARAL
CRP 03/19109
Sem dúvidas, uma das questões que mais incomodam nós mães é a culpa. Dizem que quando nasce uma mãe, nasce uma culpa. Eu diria que a culpa já existia há muito tempo, só que a maternidade intensifica as cobranças e pressões sobre nossas ações e consequentemente nos faz sentir a culpa com muito mais intensidade. E isso vale tanto para a culpa que os outros nos impõem ou para aquela que nós mesmas nos atribuímos, mesmo que outras pessoas não vejam assim.
Mas para falar de culpa precisamos entender um pouco melhor sobre ela. Entendemos como sentimento de culpa, a responsabilização ou arrependimento por alguma ação realizada que gera uma consequência, seja para si mesma ou para outra pessoa. A culpa pode ser atribuída por outras pessoas (alguém te culpa) ou por nós mesmas (você mesma se culpa). Normalmente quando fazemos algo e logo em seguida nos arrependemos ou ficamos na dúvida se aquilo foi benéfico ou não, se foi certo ou errado, enfim, surge o sentimento de culpa. Esse sentimento aparece quando reprovamos ou avaliamos de forma negativa nossas ações e está muito relacionada com a frustração. O processo de culpar-se a si mesma ou aceitar a culpa que outras pessoas atribuem sobre você também está relacionado às crenças, valores e questões culturais e ambientais que nos envolvem e ao longo da vida vão formando nossa maneira de ver o mundo e de acreditar como devemos ou não agir.
Sendo assim, o sentimento de culpa pode ser percebido de forma diferente, mais ou menos intensa, de pessoa para pessoa. A culpa é um sentimento que pode ter diversas causas, principalmente psicológicas e emocionais. Todas as pessoas sentem culpa em algum nível, por algum motivo (exceto os psicopatas). Porém, é preciso avaliar se você não está se cobrando demais, vivendo em um ambiente opressor que te atribui muita culpa ou mesmo entrando em um processo patológico devido a esses excessos. Quando sentimos culpa, precisamos avaliar qual foi a intenção e o grau de responsabilidade que tivemos sobre os atos.
Uma coisa é quando nos culpamos por algo que não podíamos prever os resultados. Outra é quando agimos por negligência, mesmo sabendo quais poderiam ser os resultados. Independente de como ou qual for a ação e o resultado que ela gere, o excesso de culpa causa danos ainda maiores para nós mesmas.
Quando falamos de culpa materna o peso é ainda maior, pois, a chegada de um filho faz pesar sobre nós uma responsabilidade e um compromisso imensos para com a vida daquele ser que nos foi confiado. As alterações emocionais, hormonais, neurofisiológicas, ambientais, entre outras, são também fatores que fazem com que sintamos com muito mais intensidade as emoções e os efeitos delas sobre nós.
A romantização da maternidade também contribui muito para que as pessoas (incluindo nós mesmas) tenham uma “visão padronizada” da maternidade. Criar filhos é algo muito complexo. Gestar e maternar é muito particular, cada pessoa está vivendo uma experiência única, mesmo que com aspectos parecidos. Cada uma viverá as experiências da maternidade de forma muito particular e sentirá culpa por questões também que têm significados diferentes para cada uma. Por exemplo: Quando uma mãe valoriza muito a amamentação e esse ato representa muito para ela e por algum motivo ela não consegue amamentar, a culpa que ela sentirá será muito maior do que na mãe que não percebe a amamentação de forma tão significativa. Entende? O ato é o mesmo, mas a forma como ele é sentido ou percebido muda de uma pessoa para a outra, assim como o peso da culpa que ela possa atribuir a si mesma.
Até aqui conseguimos entender melhor o que é a culpa, os fatores que envolvem esse sentimento e que ele tem um peso maior ou menor para cada pessoa. Agora é importante você avaliar se você está se culpando demais pelas coisas que acontecem com você ou pelas coisas que você faz. Importante também é você avaliar qual era o seu nível de consciência sobre o ato e sobre os seus resultados quando você o fez.
Fazendo isso fica mais claro você perceber se você simplesmente agiu da forma como você acreditava ser a melhor, mesmo que isso não gere os resultados que você esperava ou se você agiu de forma negligente e precisa avaliar melhor seu nível de comprometimento com a situação. Quando você faz o melhor que pode, não ter alcançado o resultado que você esperava, não te torna pior. Apenas é uma forma de você aprender com a experiência e usar isso a seu favor se permitindo evoluir e se aprimorar sobre aquela questão ou simplesmente entendendo que é algo que pode acontecer, se perdoar e seguir sem culpa e sem peso.
Lembre-se que você está vivendo um dos períodos mais intensos, complexos e importantes da sua vida. A maternidade nos coloca em conflito com nós mesmas e nos faz mergulhar profundamente numa viagem para o outro lado de nós mesmas. No meio desse turbilhão de emoções e de todas as adaptações e transformações que precisamos nos submeter, ainda temos que lidar com todas as cobranças, pressões, comparações e culpas que a sociedade e os familiares nos atribuem. Precisamos nos acolher, desenvolver nossa autocompaixão e o nosso amor-próprio, nos fortalecer e nos conhecer melhor para reconhecer nossos limites e nos respeitar. Não adianta esperar isso de fora. Tem que vir primeiro de nós para nós mesmas. E se tiver difícil para você, procure ajuda, faça terapia, cuide de você e da sua saúde mental. Quando a mãe está bem o filho fica bem. Lembre-se disso!