Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353

A princípio, a maioria das pessoas acredita na ideia de que mães adultas são mais responsáveis nos cuidados com os seus bebês quando comparadas às mães adolescentes. Há pouco tempo os pesquisadores começaram a APRIMORAR os estudos e identificaram que isso não é bem uma verdade, se antes era apenas comparado o fator idade materna, atualmente a partir do envolvimento de diversas variáveis é possível observar que há mães adolescentes que apresentam comportamentos de cuidados até melhores que algumas mães adultas.

Há pesquisas indicando que mães adolescentes tendem a amamentar mais os seus bebês de forma exclusiva no seio até os seis meses do que mães adultas. Também existem estudos apontando o contrário disso, porém os resultados encontrados se restringem apenas a idade materna, pois quando variáveis socioeconômicas são consideradas e a presença de mais de um filho, os resultados se modificam.

A maternidade na adolescência comumente acontece em famílias de BAIXA RENDA e BAIXA ESCOLARIDADE, as famílias com adolescentes grávidas recebem em torno de um a dois salários mínimos por mês. Quanto menor RECURSOS FINANCEIROS há na família, maiores são as chances da adolescente já morar junto com um parceiro e maior a EVASÃO ESCOLAR.

Os últimos artigos científicos publicados a respeito deste tema baseando o cuidado materno em práticas como AMAMENTAÇÃO e maior TEMPO de dedicação ao bebê, mostraram que não há diferença entre mães adolescentes e adultas quando as variáveis são CONTROLADAS, ou seja, quando a comparação é feita segundo as mesmas condições uma para a outra, por exemplo, quando a adolescente é primigesta e a adulta também, quando a adolescente não tem parceiro e a adulta também não, quando a adolescente tem rede de apoio e a adulta também. Portanto, não é a IDADE em si que faz a diferença nesses casos, mas as VARIÁVEIS envolvidas.

A maioria das mulheres adultas tem um parceiro, é menos discriminada ao engravidar, enquanto a adolescente muitas vezes tem infelizmente o filho “roubado” pela própria mãe que não acredita que a filha seja CAPAZ de maternar o bebê, sendo assim a adolescente acaba por exercer o papel de IRMÃ do seu filho devido ao IMPEDIMENTO de sua mãe. 

Se antigamente era comum encontrar artigos científicos mostrando a falta da rede de apoio da mãe adolescente, no mundo contemporâneo já notamos o contrário. O apoio familiar faz toda a diferença principalmente quando auxiliam nos cuidados com o bebê para que a adolescente continue os estudos.

Há estudos mostrando que a maternidade na adolescência pode ser um fator de proteção no desenvolvimento humano de algumas mulheres, pois adolescentes que estavam adentrando o mundo das drogas e/ou da violência, por exemplo, se retiraram desse caminho devido à REPRESENTAÇÃO SOCIAL de que a mãe não tem vícios e vive para cuidar do filho. Neste caso, se não fosse pela gestação a adolescente poderia adentrar vivências negativas e PREJUDICIAIS para a sua VIDA. Para muitas dessas adolescentes ser mãe foi uma REALIZAÇÃO, ainda que não planejado era um projeto de vida de muitas delas.

A maioria das mães adolescentes deixam a escola, o que ocasiona em subempregos, salários baixos, pobrezas, violência e um ambiente empobrecido para se desenvolver. É um ciclo do qual o psicólogo precisa atuar visando que a adolescente RETORNE para a ESCOLA e seja recebida pelos educadores e colegas de forma bem RECEPTIVA para que cada vez menos haja o PRECONCEITO e a adolescente possa terminar os estudos.

Portanto, os estudos comparativos entre mães adolescentes e adultas dependem das variáveis, ou seja, do CONTEXTO SOCIAL. Ao perceber que as gestantes adolescentes estão em desvantagem por  menor escolaridade, não ter apoio da família e nem do parceiro e sofrer discriminação que a leva apresentar comportamentos menos adequados que as adultas, porém é devido ao contexto do qual está inserida e não pela idade em si, pois se a gestante adulta se encontrar nas mesmas condições desfavoráveis descritas acima, também proporcionará cuidados mais negligentes ao bebê.

Referências

ANDRADE, Paula Rosenberg de; RIBEIRO, Circéa Amalia; OHARA, Conceição Vieira da Silva. Maternidade na adolescência: sonho realizado e expectativas quanto ao futuro. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 30, p. 662-668, 2009.

SILVA, Luciane Amorim da et al. Significados atribuídos por puérperas adolescentes à maternidade: autocuidado e cuidado com o bebê. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 18, p. 48-56, 2009.

MARIN, Angela Helena; LEVANDOWSKI, Daniela Centenaro. Práticas educativas no contexto da maternidade adolescente: Breve revisão da literatura. Interação em Psicologia, v. 12, n. 1, 2008.

Gostou desse conteúdo? Quer saber mais sobre Psicologia Perinatal? Faça parte da maior comunidade de formação de psicólogos perinatais da América Latina. Conheça toda nossa estrutura aqui e sinta segurança na hora de atender gestantes e mulheres no pós-parto.


{"email":"Email address invalid","url":"Website address invalid","required":"Required field missing"}