Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353
Muitas mulheres são alvos de violência de todos os tipos (física, verbal,
psicológica e sexual), é grande o número de mulheres que relatam ter experienciado algum tipo de violência.
O número de denuncias é grande, entretanto, há ainda um número maior quando pensamos nas que não denunciam.
Diversos tipos de violência contra a mulher
Além da violência domestica que muitas mulheres sofrem, há também um
número crescente de relatos de mulheres que vivenciaram a violência obstétrica, portanto violência obstétrica é quando o profissional da saúde não respeita o corpo e o processo reprodutivo da mulher, tratando-a de forma desumanizada, os tipos de violências perinatal também são do tipo (física, verbal, psicológica e sexual).
Mulheres que sofrem violência de qualquer tipo têm maiores probabilidades de desenvolverem problema de saúde mental.
Em uma pesquisa de revisão de literatura conduzida por Ribeiro e Colaboradores (2009) identificaram que uma parte importante dos problemas de saúde mental em países em desenvolvimento como o Brasil pode ser atribuída à violência.
Entre as mulheres violentadas os problemas de saúde mental mais frequente são: depressão, ansiedade e estresse pós-traumático.
Gestantes expostas á violência doméstica também são mais propensas a
desenvolver sintomas psiquiátricos (PEREIRA; LOVISI, 2008; LANCASTER et al.,2010), além de prejudicar o desenvolvimento fetal, podendo causar prejuízos futuros ao desenvolvimento infantil (ENGLE, 2009).
Violência Obstétrica também é Violência contra a mulher
A violência obstétrica se evidencia no momento do parto, e infelizmente esse ainda é um tipo de violência que muitas mulheres nem mesmo sabem que estão sendo vítimas.
Cerca de 70 a 80% das mulheres no inicio da gestação desejam ter um parto normal, mas infelizmente ao longo do tempo principalmente por influencia de seu obstetra durante o pré-natal as mulheres vão deixando o desejo de parir dando lugar a aceitação de uma cesariana.
Mas a cesariana é uma violência contra a mulher?
Quando não há o desejo da mulher e não há nenhum tipo de indicação pautada em evidencia científica de que é necessária uma cesariana, sim, aí é uma violência contra o desejo e o corpo da mulher.
Mulheres que não foram respeitadas sobre seu desejo de ter seu filho pelo parto normal, tendem a ter depressão pós-parto e muitas vezes se torna difícil o relacionamento mãe/bebê.
Não só por causa da depressão, mas também porque quando ocorre uma cesariana, em muitos hospitais no Brasil mãe-bebê não ficam próximos nos primeiro momentos após o nascimento da criança, principalmente porque essas mulheres ficam em uma sala de recuperação até voltar da anestesia e o recém nascido acaba ficando esse tempo no berçário.
Tal separação muitas vezes impede o enamoramento da dupla nas primeiras horas pós-parto, esse enamoramento é importante para o desenvolvimento do vínculo.
Para Michel Odent, importante médico Frances considerado símbolo do parto natural, a primeira hora após o nascimento é um momento de extrema importância para o desenvolvimento do vínculo entre mãe e filho.
Essa primeira hora tanto a mãe quanto a criança ainda não eliminaram os hormônios que ambos secretam durante o processo de parto, esse coquetel de hormônios são responsáveis pela capacidade de amar e formação do vínculo.
Quando é retirada da dupla mãe-bebê essa oportunidade única na vida, pois nunca mais os hormônios do amor estarão presentes em perfeita sintonia no corpo de ambos como na primeira hora após o parto, isso então pode afetar de alguma forma a relação mãe-filho.
No contexto do parto o que mais se enquadra como violência contra a mulher
Não só a cirurgia cesariana pode ser considerada violência obstétrica como
também o desrespeito com o corpo da mulher no parto vaginal. Infelizmente no Brasil
hoje temos um modelo de parto vaginal muito agressivo cheio de intervenções
desnecessárias e não baseadas em evidencias científicas. A dor do parto vaginal, portanto, é triplicada não pela fisiologia natural da mulher, mas por causa das intervenções realizadas que muitas vezes somam-se a dor física a dor moral e psicológica.
No final das contas a mulher acaba sentindo esse momento não mais como deveria ser um momento bonito e mágico em sua vida, mas, sim como um momento de dor e terror.
Tal vivencia em geral pode levar a mulher a apresentar o transtorno de
estresse pós-traumático no pós-parto, tendo como fator desencadeante do transtorno os eventos do parto.
Sendo assim todo tipo de transtorno mental no puerpério pode influenciar negativamente na relação mãe-bebê e consequentemente pode levar a prejuízos ao desenvolvimento infantil.
Se você se identificou como tendo sofrido algum tipo de violência citada no
texto e teve bebê a menos de um ano e apresenta sintomas tais como: insônia, falta de apetite, pesadelos, choro fácil, tristeza, vontade de fugir de tudo, isolamento, medo, sentimento de incapacidade e desejo de morrer.
Procure imediatamente ajuda especializada de um profissional da saúde.
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