CARINE MELO OLIVEIRA CRP04/57390
Não é nenhuma novidade que os pais idealizam os filhos. Dentro da psicologia perinatal vemos isso acontecer desde a gestação. Ao atender gestantes e puérperas é notório a importância de desconstruir o bebê ideal para dar lugar ao bebê real. Mas o que quero pontuar aqui é que ao longo da parentalidade os pais precisam retomar essa discussão do filho ideal várias vezes, todas as vezes que se deparam com a realidade do filho que não atende as suas expectativas.
Os pais geralmente constroem uma fantasia do filho perfeito e para eles, quando o filho faz birra, chora, grita é um atestado de que eles estão falhando como pais: “esse não é o filho que eu queria ter”. É muito comum ouvirmos a expressão: “criança mal-educada”, “os pais não estão sabendo educar”, “antigamente os pais não eram assim”. O que nos leva a um outro problema que é expectativa que a nossa sociedade construiu em relação aos comportamentos infantis. Se uma criança chora porque ainda é imatura demais para lidar com as frustrações, logo ela é silenciada. É importante pontuar aos pais que todos os sentimentos são bem-vindos, até mesmo aqueles que consideramos ruins, e que sentir é permitido, algumas atitudes não (SANTOS, 2019)
Ajudar os pais a compreenderem que o comportamento da criança não é um atestado de bons pais é uma das tarefas mais difíceis dentro da orientação parental. Ao saberem que alguns comportamentos acontecem por causa da imaturidade ou normalizar a expressão dos sentimentos trás um certo alívio para os pais. Outro ponto importante é saber que boa parte dos comportamentos desafiadores acontecem e que a forma como lidamos com esses comportamentos pode agravar a situação e torná-la ainda mais difícil. É importante pontuar aos pais que a forma como ele enxerga o filho e a capacidade que ele tem de saber qual é o seu lugar na relação, ajuda a compreender ainda mais o propósito da parentalidade.
Não é sobre ter o filho perfeito, é sobre ajudar meu filho a enfrentar os desafios da vida de uma forma mais saudável. Não é sobre ser o pai perfeito, é sobre saber o seu lugar e a importância que tem na vida do filho, ser um modelo, um exemplo a ser seguido. É sobre aceitar o que não pode mudar e acolher a imperfeição, entendendo que as crianças não precisam de pais perfeitos, e sim de pais conscientes, que se importam e sabem que o seu lugar é de professor da vida.
As crianças são pequenos cientistas, e ao explorarem o mundo, muitos pais tendem a ver essa exploração como “travessura”, o que pode atrapalhar o desenvolvimento da criança. É importante que os pais se adaptem a esse novo filho e a todas essas novas experiências, ajudando a criança a desenvolver habilidades socioemocionais que serão muito importantes na vida adulta. Não brigar com a realidade é necessário para conseguir ver a criança que está ali e precisa tanto da ajuda desses pais (NELSEN. et al., 2018).
Portanto é de suma importância ajudar os pais nessa desconstrução, para que ele possa compreender seu papel dentro da dinâmica pais e filhos. É possível criar filhos buscando desenvolver essas habilidades, mas para isso os pais também precisam desenvolver essa inteligência emocional para lidar com os conflitos internos que irão surgir sempre que se propuserem a fazer algo no qual não estão acostumados.
NELSEN, Jane. et al. Disciplina positiva para crianças de 0 a 3: Como criar filhos confiantes e capazes. São Paulo: Manole, 2018
SANTOS, Elisama. Educação não violenta: Como estimular autoestima, autodisciplina, resiliência, em você e nas crianças. 1 ed. São Paulo: Paz e terra, 2019.