Por Dra. Dafne Rosane Oliveira CRP/0115113
A saúde mental, ou saúde emocional materna é objeto de estudo de muitos pesquisadores que se debruçam a entender como os eventos de vida influenciam no ciclo gravídico puerperal e talvez o mais importante, se podemos controlá-los ou mitigá-los com ações de prevenção e assistência. Maher (2021) menciona que o estresse materno durante a gravidez tem uma considerável influência no desenvolvimento fetal, podendo trazer resultados adversos no nascimento e muitas adversidades no desenvolvimento infantil. Discute-se que se trata de construção multidimensional, que envolve diversos fatores.
Uma situação, em particular, diz respeito a refugiadas grávidas com possível risco de desfechos maternos e neonatais adversos amplamente evitáveis. São mulheres fugindo de guerras, violência, perseguição baseadas em raça, religião, nacionalidade, opinião política ou pertencimento a um determinado grupo social. As situações adversas envolvem saúde precária antes da concepção, intervalos curtos entre gestações e dificuldade de acesso a cuidados pré-natais oportunos, apresentando poucas oportunidades para identificar e tratar condições maternas pré-existentes. Quando comparadas a mulheres que não são refugiadas, encontram-se taxas mais altas de parto prematuro, bebês com baixo peso ao nascer, natimortos e mortalidade materna. (Malebranche, Nerenberg, Metcalfe, Fabreaua, 2017)
Além disso, as mulheres encontram comumente barreiras linguísticas, diferenças culturais e dificuldade em conviver em sistemas sociais e de saúde complexos nos países de acolhimento, muitas vezes acarretando a fragilidade dos cuidados de saúde, atraso no início dos cuidados e menos consultas pré-natais. Inclusive, no contexto da pandemia da Covid-19, pode-se inferir que a rápida disseminação da Covid-19 piorou circunstâncias desfavoráveis e cruéis para as mulheres refugiadas, que são conhecidas por experimentar uma variedade de violência baseada em gênero.
Portanto, entende-se que as gestantes refugiadas experienciam um agravamento dos sofrimentos físicos e mentais, uma vez que estão imersas na precarização dos serviços de saúde. Este contexto interfere diretamente no direito que possuem de terem uma gestação digna e um parto seguro, consequentemente, na manutenção de sua dignidade como ser humano e prováveis consequências negativas para o desenvolvimento de seus filhos. (Moreno, Mendes, Uliana, 2020)
Espera-se que existam ações de ordem pública que garantam políticas de cuidado e atenção psicossocial que sejam efetivas e acessíveis a refugiadas, especialmente nesse momento de vulnerabilidade que envolve a gestação e o puerpério. Além disso, é importante haver profissionais capacitados na área da Perinatalidade e de desastres, abrangendo assim a complexidade da demanda que envolve essa situação.
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