Por Dra. Dafne Rosane Oliveira CRP/0115113
A Saúde Mental é influenciada por múltiplos fatores sociais, psicológicos e biológicos, sendo integrante da saúde e refletindo na forma como o indivíduo realiza suas próprias habilidades, como lida com as tensões normais da vida, suas emoções e pensamentos, como interage com outras pessoas e trabalha de forma produtiva contribuindo com a sua comunidade. Neste texto, considera-se saúde mental como sinônimo de saúde emocional, termo comumente utilizado para se referir a estudos que envolvem saúde da mulher, gestante e puérpera. (OPAS/OMS, 2016)
Em desastres, é comum e muito relevante a discussão sobre como esse cenário afeta a saúde mental das pessoas: desde os afetados diretamente pelo evento em si, como também os afetados indiretamente como profissionais de socorro, transeuntes, moradores próximos das áreas afetadas e espectadores que muitas vezes se compadecem diante às coberturas midiáticas das tragédias. E a forma como cada um é afetado é sempre particular e condicionada ao ambiente que envolve características do indivíduo afetado e seu entorno.
Lowe et al. (2020) discutem que há evidências robustas de que a exposição a eventos potencialmente traumáticos durante um desastre é preditiva de resultados adversos de saúde mental pós-desastre, incluindo sintomas de sofrimento psicológico e até mesmo estresse pós-traumático.
A vivência de situações de desastres pode acarretar graves sofrimentos psicológicos e sociais, ameaçando a paz, os Direitos Humanos e o desenvolvimento de crianças e adolescentes, tanto a curto quanto a longo prazo. Mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos são fatores podem colocar em risco a saúde mental. O termo Saúde Mental e apoio psicossocial descreve todo tipo de apoio local ou externo, cujo objetivo seja de proteger ou promover o bem-estar psicossocial e/ou prevenir ou tratar transtornos mentais relacionados ao desastre. (Inter-Agency Standing Committee (IASC) (Comitê Permanente, 2007)
Crianças, adolescentes, gestantes, idosos e pessoas com deficiência, são consideradas populações vulneráveis em situações de desastres, uma vez que algumas características, como capacidade de se proteger, de pedir ajuda e a mobilidade física, costumam ser fatores que aumentam as chances de serem atingidos por condições adversas. A lei 12.608, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil no Brasil, prevê a realização de procedimentos para atendimento a essas populações em situações de desastres. É importante que tais ações estejam previstas nos planos de contingência como forma de prevenção, mitigação e preparação, a fim de minimizar os efeitos de um possível desastre. (Brasil, 2012)
É importante investigar como se dá o cuidado de gestantes em situações de desastres para que seja ofertada a melhor assistência a essa população, dada sua condição de vulnerabilidade. Destaca-se uma vulnerabilidade emocional, pois sabe-se que gestantes tem potencial para alterações emocionais significativas dependendo das condições de vida.
Lowe et al. (2020) discutem que mulheres grávidas e seus filhos não nascidos devem ser reconhecidas como populações vulneráveis e protegidas em conformidade. Ressalta-se a importância de profissionais de saúde estarem capacitados a oferecer assistência que previna e/ou reduza os efeitos na saúde mental das gestantes e seus filhos.
Lafortune et al. (2021) encontraram que o estresse materno pré-natal relacionado a desastres naturais influencia significativamente o desenvolvimento infantil em múltiplas esferas: desenvolvimento cognitivo, motor, físico, socioemocional e comportamental. Em relação aos tipos de desastres, encontrou-se que esses efeitos são piores em situações de tempestades de gelo do que em relação a inundações. Além disso, os desastres de maior duração e distribuição mais ampla na população são os que necessitam de maiores ações de cuidado e proteção para mulheres grávidas e seus filhos não nascidos, a fim de reduzir os desafios para a saúde das crianças, seu desenvolvimento e bem-estar.
Portanto, diante a complexidade e abrangência dos fatores envolvidos na realidade de cada gestante, não há como mensurar como cada uma viverá cada evento estressor e os efeitos a médio e longo prazo. Contudo, são necessários mais estudos e prioridade nas ações de cuidado e proteção, para conhecimento das diferentes contingências desses eventos, vulnerabilidades, estratégias de enfrentamento e de prevenção. Essas informações podem ser úteis como basiladores de políticas públicas que garantam boas práticas e acesso à população a um cuidado efetivo para as gestantes e seus filhos.
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