CARINE MELO OLIVEIRA CRP04/57390
Na nossa sociedade temos como herança uma parentalidade punitiva e muito rígida que busca a contenção dos comportamentos. Mas atualmente vemos uma ascensão de relações democráticas, no qual a base é o respeito e a reciprocidade. Vendo dessa maneira os pais atuais podem ser considerados pais do meio, entre uma geração e outra. Pais que foram criados com métodos punitivos buscando uma parentalidade não punitiva e positiva. Isso faz com que os pais tenham um pouco mais de dificuldade em manter seus objetivos, pois se veem várias vezes perdidos na criação dos filhos, com o desejo de fazer diferente e a frustração de simplesmente não conseguir.
São pais emocionalmente abalados tentando se conectar com seus filhos e tendo bastante dificuldade em coisas simples como brincar junto ou dizer eu te amo. Também é possível observar histórias de pais negligentes que deixaram marcas negativas na parentalidade destes pais que precisam de um esforço extra para construir sua própria parentalidade, e muitas vezes sentem necessidade de saber “o que fazer” na relação e na criação dos filhos.
Cada vez mais os pais se veem desautorizados na criação dos filhos. Sabem o que querem, mas não conseguem colocar em prática o que sabem. Na era digital os pais conseguem ter acesso a vídeos, posts e explicações de especialistas dizendo o que fazer. O que é certo e o que é errado. Nesse movimento de certo e errado os pais vão se sentindo mais perdidos, perdendo sua autonomia e acreditando que não são bons pais, pois fazem “tudo errado”. Não é incomum ouvirmos na orientação parental os pais dizerem que desistiram de tentar fazer o que é certo, pois não conseguem colocar em prática o que aprendem.
Isso porque esses pais buscam soluções mágicas para resolverem a “problemática” da criação dos filhos. É possível ter um manual de como criar filhos? O que pode? O que não pode? Se eu fizer isso eu serei um bom pai, uma boa mãe? Buscam uma reposta para o comportamento do filho, uma solução para o sofrimento.
E nessas perguntas tão importantes está o profissional da psicologia que precisa acolher esse sofrimento enquanto encoraja os pais a continuarem esse caminho tão complicado que é do parentalidade. Acolher a angústia dos pais é contribuir para que eles possam compreender qual o seu lugar na vida dos filhos e que não existe um manual do que fazer quando se trata da parentalidade. Fazer escolhas é mesmo uma tarefa difícil que necessita coragem. Coragem para serem pais autênticos e bancar suas escolhas.
É importante orientamos aos pais sobre práticas educativas parentais positivas, e nesse processo termos o cuidado de acolher esses pais que querem fazer diferente. Que estão tendo coragem de sair da zona de conforto e não fazer o que é fácil. Ajudá-los a desenvolver habilidades para que assim se sintam mais confiantes e capazes.
Não cabe a nós psicólogas julgar a parentalidade desses pais, nem as escolhas que eles fazem, e sim orientá-los que são capazes e que podem fazer essas escolhas tão difíceis. Disciplina significa ensinar e ensinar requer esforço e paciência. E os profissionais da parentalidade tem essa tarefa de disciplinar os pais, ensiná-los e encorajá-los nesse processo.
Por isso é importante que nós psicólogas possamos ocupar esse lugar de orientadoras parentais, para que possamos contribuir com o nosso conhecimento da psicologia para essa área que hoje se mostra uma oportunidade dentro da nossa categoria. O olhar acolhedor e o ambiente seguro para que esses pais encontrem o caminho que mais faça sentindo e se sintam seguros nas escolhas que estão tomando em relação à criação dos próprios filhos, sem se sentirem desautorizados desse papel.