Por Danielle Santos Leandro Gomes de Souza-Psicóloga CRP 17/2102

Quem pariu mantém e balance ou É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança? A nossa sociedade comumente se divide entre esses ditados populares, mas qual desses faz mais sentido na realidade das famílias que estão vivenciando a novidade que é a vinda de um filho?

As pessoas têm um costume corriqueiro que é o de reproduzirem suas experiências de vida, por isso o lidar com essa adaptação que é a vinda do bebê ao seu lar gera desconfortos e conflitos, pois cada um que participa da vida do novo ser quer repetir o que viveu anteriormente independente do contexto atual da família que acaba de se formar.

            Cleusa Alves Martins, em seu artigo sobre as mudanças na dinâmica familiar, afirma que

a chegada de um novo membro à família pode gerar um aumento na tensão familiar, pois traz consigo a necessidade de uma reformulação nos papéis e nas regras de funcionamento familiar”. Em outro momento, no mesmo texto, a autora informa que “as mudanças ocorridas durante os períodos de nascimento e puerpério podem interferir significativamente na dinâmica familiar. A formação de uma rede de apoio pelo grupo familiar pode ser extremamente benéfica, tanto para a puérpera quanto para os demais membros que vivenciam de forma mais próxima o nascimento da criança (MARTINS et al, 2008, p. 1015,1016)

Dificilmente uma mãe consegue manter sua saúde mental e emocional intacta sem que ao seu redor existam pessoas verdadeiramente interessadas em auxiliá-la nos afazeres diários e nos cuidados com o bebê. A rotina da mãe e do pai facilmente é sobrecarregada. É possível que ela até consiga lidar sozinha com os cuidados do seu bebê, mas isso facilmente acarretará danos a sua saúde física e psíquica.

            Ainda sobre esse tema, a psicóloga Maria Tereza Maldonado ressalta que:

o primeiro século de estudos sobre a formação do psiquismo concentrou-se na díade mãe-bebê, sem levar em conta a profunda influência do contexto e da rede de relações: o papel do pai e da estrutura familiar, o envolvimento com a equipe escolar e os colegas de classe e de vizinhança, o ambiente socioeconômico, a religião, a comunidade, a organização do lazer, a cultura e muitos outros fatores também contribuem para a formação do novo ser. Em síntese, quando o bebê se desenvolve bem, aumenta a autoconfiança dos pais. Ao contribuírem para que o filho cresça bem, revivem seu próprio desenvolvimento e o reconstroem. Desse modo, atingem um novo nível de desenvolvimento pessoal (MALDONADO, 2017, p. 136).

            Muitas vezes as mulheres que estão nessa fase de adaptação com o bebê não se sentem confortáveis ao receber muita ajuda. Apesar de ser extremamente importante que a mãe permita o recebimento desse auxílio, também é preciso entender que se trata de um momento delicado onde a mulher está se descobrindo como mãe e por isso não adianta querer que ela aceite ajuda de quem não lhe é íntimo.

            Como relata Maldonado e Dickstein (2010) há pessoas que com intenção de ajudar, colocam-se em posição de superioridade perante a mãe, e ainda afirmam:

Eu criei cinco filhos, tenho muita experiência com bebês, sei do que necessitam”; Sei como lidar com crianças melhor que você que só tem teoria na cabeça” são frases que fazem com que a mãe se sinta ainda mais insegura, inadequada e incompetente (MALDONADO; DICKSTEIN, 2010, p.163)

            A maternidade pode ser solitária em muitos momentos, mas nem sempre precisa ser. Apoiar uma família que experimenta o puerpério é cuidar dela respeitando o espaço da mãe e a construção de sua relação com seu bebê para que a família possa se tornar forte e saudável. As mesmas autoras enfatizam que é essencial que essa ajuda seja utilizada para favorecer a aprendizagem dos pais, tornando-os mais confiantes e seguros para cuidarem do filho.

            Assim, podemos dizer que a rede de apoio é aquela que oferece suporte, entendendo que a mãe precisa de momentos só pra si, que o casal precisa de momentos só pra si e que as atividades precisam ser divididas entre os que amam e fazem parte da vida desse bebê, dessa família. Os integrantes da rede de apoio podem ser parentes, vizinhos, amigos e ela pode ser construída também em grupos de apoio psicológico que trabalhe com prevenção primária de doenças psíquicas e com atenção e promoção de saúde desde o planejamento da Gestação até o Pós-Parto, favorecendo a vinculação saudável entre os familiares.

REFERÊNCIAS

MALDONADO, M. T. Psicologia da Gravidez: Gestando pessoas para uma sociedade melhor. São Paulo: Ideias & Letras, 2017.

MALDONADO, M. T.; DICKSTEIN, J. Nós Estamos Grávidos. São Paulo: Integrare, 2010.

MARTINS C.A. et al. Dinâmica familiar em situação de nascimento e puerpério. Revista Eletrônica de Enfermagem [Internet]., v10, n.4, p.1015-1025, 2008.

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