Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353
A ansiedade é um estado emocional transitório ou, dependendo do nível, uma condição do organismo humano, caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão, apreensão e aumento na atividade do sistema nervoso autônomo.
Pode ser: normal, leve ou grave, prejudicial ou benéfica, episódica ou persistente, ter uma causa física ou psicológica, ocorrer sozinha ou junto com outro transtorno, afetar ou não a percepção e memória.
A ansiedade faz parte do processo normal do desenvolvimento humano, podendo estar presente em todos os períodos do ciclo vital. Todavia, em alguns momentos da vida, a ansiedade é mais intensificada do que em outros e, dependendo do período, ela é considerada como um estado emocional esperado, tais como: mudança de emprego, espera do resultado de um concurso ou exame médico, casamento, o nascimento de um filho, entre outros. A ansiedade é uma característica biológica que acontece em momentos de medo, perigo ou tensão.
A ansiedade, mesmo em níveis mais elevados, acaba tornando-se constante na vida de muitas pessoas, principalmente pela vida atribulada atual. Dependendo do grau de frequência com que o sujeito é exposto a ansiedade, ela pode se tornar patológica.
Levine et al. (2003) concluíram, em uma revisão bibliográfica, que mulheres que sofrem de algum transtorno mental, têm maiores probabilidades de apresentarem transtornos de ansiedade durante a gravidez e pós-parto. Em geral a ansiedade não é vivenciada da mesma forma ao longo da gestação. Autores que se dedicaram ao estudo da psicologia da gravidez como Raquel Soifer (1992), Maria Tereza Maldonado (1997) e Myriam Szejer (1997), entre outros, classificaram os diferentes motivos pelos quais as gestantes sentem-se ansiosas ao longo dos três trimestres da gestação, sendo que cada trimestre é marcado por experiências específicas que o caracterizam (Ver as postagens no site MaterOnline “O primeiro trimestre”,
“Segundo trimestre gestacional” e “O terceiro trimestre”.
Entretanto, tais classificações não devem ser generalizadas, uma vez que há mulheres que não vivenciam ansiedades e, em outras, a ansiedade pode estar relacionada a outros fatores, devendo-se levar em consideração a singularidade de cada mulher.
Outros motivos podem gerar ansiedade durante a gestação como, por exemplo, a perda fetal anterior. Mulheres que tiveram abortamento anterior a gestação atual, apresentam maior nível de ansiedade e stress em relação as que não tiveram abortamento. A ansiedade provocada pelo estado gestacional da mulher pode torná-la vulnerável ao desenvolvimento de perturbações emocionais, podendo se manifestar por pensamentos repetitivos acerca da mesma e do bebê, por alterações do humor, irritabilidade, vulnerabilidade emocional, stress, insônia, sintomas depressivos etc.
A ansiedade é uma das alterações psicológicas mais comuns na gravidez, com índices superiores aos do puerpério. Altos níveis de ansiedade na gestação podem resultar em complicações obstétricas, como o nascimento prematuro e baixo peso do bebê, pré-eclâmpsia e mecônio no líquido amniótico maior atividade motora no feto, depressão no período gestacional, além de ser indicativo para ansiedade e depressão puerperal.
Pesquisas mostram, ainda, que a ansiedade gestacional traz consequências negativas para o crescimento e desenvolvimento infantil (BROUWERS; VAN BAAR, 2001; O’CONNOR, 2003; BUSS et al., 2010; BELTRAMI; MORAES; SOUZA, 2013). A ansiedade, também, pode estar presente no puerpério. Para Wenzel et al. (2005), a prevalência de transtorno de ansiedade generalizada é mais elevada em puérperas do que em mulheres da população geral e, nesse período, são mais frequentes que os transtornos depressivos.
Mulheres com alta ansiedade, baixa escolaridade, história de humor deprimido e alto estresse apresentavam risco de manifestar ansiedade no pós-parto (SCHIAVO, 2011). Outros estudos mostraram que diminuiu o risco de ansiedade puerperal quanto maior a renda e faixa etária da puérpera, enquanto que o risco aumentou frente a intercorrências com o recém-nascido, como prematuridade, baixo peso, malformação e internação do bebê em UTI após o nascimento (PADOVANI et al., 2004; PEROSA et al., 2009; FAISAL-CURY et al., 2006).
Sentir-se ansiosa, portanto, no período gestacional e pós-parto é normal e é considerado comum e esperado, pois, tais situações são muitas vezes novas para a mulher, ter que lidar com a ambivalência de desejar e não desejar a gravidez, sentir e observar as mudanças corporais, os medos em relação ao parto, o não conseguir dormir por causa do incomodo da barriga, ou após o nascimento da criança, sentir muitas vezes que não dará conta de ser uma boa mãe, ter de descobrir porque a criança está chorando, ter que lidar com visitas, tarefas domesticas e os cuidados com o bebê realmente colocam a mulher em uma condição ansiosa e que logo que conseguir resolver tais dificuldades voltará ao seu estado normal emocional.
Entretanto, se sentir que a ansiedade está atrapalhando seu dia a dia e sua relação com o bebê, com o parceiro(a) e outras relações sociais, pode ser indicativo que essa ansiedade não está dentro do que se espera nessa fase.
Uns dos sintomas que caracterizam ansiedade em nível clínico, ou seja, que é recomendado procurar um profissional da saúde mental são: palpitação, aceleração do coração, sudorese, tremores, medo constante que aconteça o pior, sensação de sufocação e sensação de desmaio. Portanto, se sentir dois ou mais desses sintomas é preciso procurar ajuda de um profissional da saúde mental, para fazer uma avaliação de seus estado emocional e oferecer o melhor tratamento para lhe ajudar a retornar as atividades diárias sem tanto sofrimento.
BELTRAMI, L; MORAES, A.G; SOUZA, A.P.R. A. Ansiedade materna puerperal e risco para o desenvolvimento infantil. Distúrb. Comum, São Paulo, v.25, n.2, p.229-239, 2013.
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