Por Christianne Alecsandra Nunes Pessoa Silva
Psicóloga Perinatal (Instituto MaterOnline) CRP 02/14305
A mulher recebe seu positivo, espera 9 meses para conhecer seu bebê, se prepara para o parto e de repente, no pós parto se depara com uma tristeza estranha, uma melancolia, vontade de chorar sem saber o motivo. Sim! Ela pode estar vivenciando o Baby Blues, que é um estado emocional em que a mulher tem uma ambivalência de sentimentos.
Ora ela se sente triste, irritada, chora sem saber por que, olha para o bebê e pensa no que fez da vida; ora se sente feliz e olha para o bebê com um amor incondicional.
É um processo elaborativo e adaptativo às experiências intensas que acabou de vivenciar, na gestação, no parto (independente do tipo).
É uma fase que traz felicidade, alegria, realização, mas também momentos de frustração e solidão e pode durar aproximadamente 45 dias, sendo mais frequente e comum nas duas primeiras semanas após o nascimento do bebê. Ela se sente triste, não entende o porquê de estar assim, sente culpa de sentir isso.
É um misto de tristeza, alegria, culpa, pensamentos de como ela era antes de ter filho, de como é agora nascendo como Mãe. Essas alterações de humor são decorrentes de alterações hormonais significativas.
Ela se sente mais sensível; seu corpo ultrapassou os limites literalmente, então quando vem o choro ela está transbordando também. Forte não é? Ela tem insegurança, está em constante estado de alerta e sai da sua realidade para viver a realidade com o bebê.
Diante de tudo isso, ela pensa: ”como posso contar para alguém que está sendo difícil cuidar do meu bebê, do filho que eu tanto quis e sonhei?” Essa pergunta vem das cobranças que a sociedade impera de que a mulher é plena e feliz na maternidade desde a gestação.
Uma maternidade idealizada que frustra, faz com que a mulher se sinta triste, incapaz de cuidar do seu filho e mais ainda não queira falar sobre o que sente para não ouvir comentários como: ”nossa! Como pode você dizer que sente isso nesse momento tão lindo, tão desejado pelas mulheres?” E como ela não pode falar abertamente sobre isso, se fecha e gera ainda mais alterações emocionais significativas podendo piorar seu estado e levar a depressão.
Essas cobranças normalmente vêm da sociedade, mas também pode vir dos familiares, parceiro. É importante prestar atenção nessa mulher.
Às vezes ela não fala do que sente, mas mostra com atitudes, gestos, um pensamento alto de ”estou me sentindo tão triste hoje …”. É preciso falar sobre a maternidade real, cheia de altos e baixos e acolher essa mulher num momento tão delicado que vivencia.
Esse acolhimento faz diferença para que ela sinta-se livre para falar sobre seus sentimentos, expressar dores, frustrações e com isso possa experimentar uma maternidade mais leve.