Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353
A sociedade entende que toda mulher grávida e mãe está plena e feliz, que uma maternidade é cheia de flores e de encantos. Os profissionais da saúde vivem uma realidade de tentar romantizar a maternidade, entretanto, a ideia de que, toda mulher está plena e feliz com a gestação adoece uma boa parte das mulheres na gravidez e no pós-parto porque elas não conseguem se enxergar nesse papel romântico.
E infelizmente pessoas não conseguem aceitar o fato de uma mulher não estar feliz no seu papel de mãe e a mulher aprende que não pode falar que está se sentindo estranha para outras pessoas, e logo entende que deve guardar para si mesma os sentimentos que estão lhe assustando. Muitas vezes ela acredita que é a única a estar sentindo o que ela sente e o problema aumenta.
É triste pensar que essa mulher pode procurar por um profissional que também romantize a maternidade e não tenha conhecimento teórico sobre essa área. A falta de conhecimento do profissional pode fazer com que ele reproduza o que o senso comum acredita e não exerça a conduta de um profissional da saúde com conhecimento científico.
O profissional de saúde deve fazer uma avaliação científica do que está acontecendo, estamos vivendo um momento em nosso país, que os profissionais não são atraídos pela ciência e acabam baseando seu comportamento em crenças e preconceitos, um exemplo disso é o alto número de violências obstétricas que acontecem em nosso país.
É preciso entender a maternidade de uma forma diferente, é preciso desconstruir a romantização.
Não é necessário também acreditar que a maternidade é um horror, pois para a maioria não é. A maioria das mulheres sabe que, apesar de algumas dificuldades, ser mãe é bom, no entanto, são verdadeiros os fatos de que a mulher sofre muito, fica invisível, sozinha, muitas vezes se arrependem da maternidade, mas quando olha para o filho tem outra sensação e tudo passa, é a ambivalência do ser mãe, uma ambivalência que não tem só lado negativo e nem só lado positivo.
É preciso uma mudança de paradigma em relação à maternidade e o principal ator para que aconteça essa mudança de paradigma é o profissional da saúde que atua na perinatalidade. Existem muitos países que já avançaram nesse processo, mas o Brasil ainda não; é necessário avançar nesse quesito e assim ajudar a diminuir as alterações emocionais significativas nesse período, contribuindo para o fortalecimento da rede de apoio dessa mulher.
ÁUDIO – PROFISSIONAIS EM AÇÃO, 16 DE MARÇO DE 2020