Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353

A gestação é um período de muitas transformações físicas, psíquicas e sociais na vida da mulher/casal/família. Para a maioria das pessoas, o estar na condição de grávida, é entendido como um momento mágico, especial e feliz, entretanto nem sempre esse momento é vivenciado dessa forma. 

Cerca de 35% das gestantes apresentam sintomas de alta ansiedade (SCHIAVO, 2016), por volta de 65% sintomas de estresse (RODRIGUES e SCHIAVO, 2011; WOOD et al, 2010; SEGATO et al., 2009) e cerca de 25% manifestam sintomas de depressão (GUEDES et al., 2011; FIGUEIRA; DINIZ; SILVA FILHO, 2011; SCHIAVO, 2016). 

Nem toda gestante esta plena e feliz:

Com esses dados já é possível perceber que a fase gestacional não é sentida como um momento de perfeita harmonia na vida de muitas mulheres. Entretanto, a sociedade continua a tratar a gestante como um ser que está na sua plenitude de felicidade, até mesmo os profissionais da saúde que trabalham com esse público negligencia a saúde mental da mulher por terem também internalizado esse estereótipo de gestante feliz 

A gestante precisa de atendimento psicológico:

É preciso criar espaços na comunidade para se falar sobre as angustias que atormentam a mulher no período gestacional e o profissional mais adequado para isso somos nós psicólogos. Pesquisas indicam que mais de 50% das gestantes não planejaram a gravidez (PIMENTEL, 2011; CHAVES, 2010) e existe associação entre não planejamento da gravidez e problemas de saúde mental durante a gestação (SCHIAVO, 2011; BENUTE et al., 2010). 

Se não cuidada pode permanecer e até se agravar no pós-parto:

Pesquisas também indicam que sintomas de ansiedade e depressão no pós-parto, estão fortemente associados aos sintomas já apresentados durante a gestação, ou seja, se a mulher apresenta ansiedade ou depressão na gestação a probabilidade da mesma continuar a apresentar esses sintomas no pós-parto é alta (MORAIS, LUCCI e OTTA 2013; RODRIGUES e SCHIAVO, 2011; SCHIAVO, 2016; LANES; KUK; TAMIM, 2011). 

Os problemas de saúde mental que se manifestam no pós-parto, portanto, podem ter iniciado já na gestação, entretanto, como vivemos em uma cultura onde se propaga a ideia de que a gestante está feliz a avaliação da saúde mental da gravida é negligenciada. Ao realizar uma avaliação do estado emocional da gestante é possível identificar o quanto antes se a mulher está apresentando alguma alteração emocional e realizar uma intervenção, assim evitando que tal alteração emocional se agrave no pós-parto. 

Precisamos de psicólogos que atendam essa área

Uma sugestão para que os problemas de saúde mental sejam avaliados o mais precocemente possível na gestação é o oferecimento do pré-natal psicológico. Mas para isso é necessário que cada vez mais tenhamos psicólogos capacitados para oferecer este tipo de atendimento. Existe uma área da psicologia chamada Psicologia Perinatal que é um campo de atuação recente em nosso país e poucos psicólogos conhecem esta área, daí a necessidade de formarmos mais profissionais competentes para esta área de atuação tão carente e com tanta demanda em nosso país. 

Infelizmente por este campo de atuação do psicólogo ser tão pouco divulgado é que temos poucos profissionais formados nesta área em nosso país e isto reflete também na saúde mental das gestantes, pois, o número de gestantes que procuram um atendimento clínico psicológico é muito pequeno, e em geral estas procuram quando o problema de saúde mental já está lhe trazendo muito sofrimento. 

É necessário que se crie uma nova cultura no que diz respeito a saúde da gestante, onde os profissionais se preocupem não só com a avaliação médica da gestação, mas também a mental. 

Referências Bibliográficas

BENUTE, G. R. G et al. Depression during pregnancy in women with a medical disorder: risk factors and perinatal outcomes. Clinics, v.65, n.11, p.1127-1131, 2010.

CHAVES, J. H. B et al. Abortamento provocado e o uso de contraceptivos em adolescentes. Revista Brasileira Clínica Médica, v.8, n.2, p.94-100, 2010.

FIGUEIRA, P.G; DINIZ, L.M., SILVA FILHO, H.C. Características demográfica se psicossociais associadas à depressão pós-parto em uma amostra de Belo Horizonte. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.33, n.2, p.71-75, 2011.

GUEDES, A. C. E et al. Depressão pós-parto: incidência e fatores de risco associados. Revista de Medicina, v.90, n.3, 2011.

LANES, A; KUK, J. L; TAMIM; H. Prevalence and characteristics of Postpartum Depression symptomatology among Canadian women: a cross-sectional study. BMC Public Helth, v.11, n.302, 2011.

MORAIS, M. L. S; LUCCI, T. K; OTTA, E. Postpartum depression and child

development in first year of life. Estudos de Psicologia. Campinas, v.30, n.1, p. 7-17, 2013.

PIMENTEL, K; SÁ, C. M. M.N; FERREIRA, N; SILVA, T. Perfil clínico-social das gestantes numa cidade docente-assistencial baseada no modelo da saúde da família. Revista de Saúde Pública, v.35, n.2, p.2309-249, 2011.

RODRIGUES, O. M. P.R; SCHIAVO, R.A. Stress na gestação e no puerpério: uma correlação com a depressão pós-parto. Revista de Ginecologia e Obstetrícia, v.33, n.9 p. 2011.

SEGATO, L et al. Ocorrência e controle do estresse em gestantes sedentárias e fisicamente ativas. Revista da educação Física/UEM, Maringá, v.20, n.1, p.121-129, 1.trim. 2009.

SCHIAVO, R.A. Desenvolvimento Infantil: associação com estresse, ansiedade e depressão materna, da gestação ao primeiro ano de vida. 2016. 150f. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista-UNESP, Botucatu, 2016.

WOOD, S. M. et al. Psychosocial stress during pregnancy. Am. J. Obstet. Gynecol., v.202, p.61.e1-7, 2010.

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