Você sabia que um bebê pode apresentar depressão?
Sim, ele pode e o nome para esse tipo de comportamento no bebê é Depressão Anaclítica. É bem difícil observar depressão em bebês, porque as pessoas não sabem ser possível o desenvolvimento de depressão durante a primeira infância, dificultando o diagnóstico. Não se passa pela cabeça dos pais e até mesmo de profissionais que o bebê possa apresentar comportamentos que indicam estado de depressivo. É mais difícil ainda quando a criança é recém-nascida ou com menos de 6 meses de vida; é difícil, também, dizer de fato que o que a criança apresenta é uma depressão.
E porquê um bebê pode apresentar depressão?
Muitas vezes o comportamento depressivo pode provir de uma frustração precoce que pode ter ocorrido no meio familiar, como, por exemplo, quando o bebê não recebe investimento materno ou paterno, ou de qualquer cuidador por vários motivos. Geralmente a depressão anaclítica acontece quando os cuidadores apresentam comportamentos de risco, como cuidadores drogaditos ou exposição a um ambiente de violência.
Outro fator, é que na maioria das vezes os cuidados com o bebê, fica sob responsabilidade somente da mãe e há casos em que essa mulher não consegue oferecer investimento materno da forma que a criança precisa e não há ninguém, qualquer outra pessoa para oferecer esse investimento de afeto ao bebê. Infelizmente a responsabilidade com os cuidados com o bebê ainda hoje é considerado uma responsabilidade somente da mulher. E sabemos que muitas mães precisam de cuidados para poder cuidar, cerca de 20% apresentam depressão pós-parto.
A mãe por estar apresentando depressão, pode não conseguir olhar para o filho como sujeito e sentir prazer na maternidade, e isso pode fazer falta para o bebê. Mas não podemos nunca culpabilizar a mulher por isso, precisamos identificar no meio familiar quem pode desempenhar esse papel de cuidados com o bebê e que possa investi-lo de afeto, enquanto sua mãe está sem energia para materna-lo e claro, ela precisará de cuidados de um profissional da saúde.
Outros fatores que podem provocar na criança uma depressão anaclítica é a separação real da mãe; às vezes ela estava ali e por algum motivo, se ausentou, seja por morte, necessidade de internação ou outros. Vale a pena lembrar aqui que não é nescessáriamente o afastamento da mãe, mas sim do cuidador primário do bebê, que pode ser o pai, alguém da família, uma babá etc. O cuidador primário é aquele com quem a criança foi desenvolvendo afeto e construindo uma vinculação e quando há essa separação brusca, pode ser um desencadeador de depressão na criança.
Quais são os comportamentos que podemos observar no bebê então com depressão?
A criança apresentará pouco movimento, atraso motor significativo, com atonia, inércia motora e pouca interatividade social.
Quando avaliamos o desenvolvimento do bebê e identificamos como resultado atraso motor, inércia motora, e falta de interatividade com outro, baixas respostas de habilidades de socialização no bebê, pode ser um indicativo de que a criança está apresentando depressão anaclítica.
O resultado da avaliação do desenvolvimento do bebê somado ao conhecimento da história da família, ajuda a formar um possível diagnóstico de depressão anaclítica, que precisa de atenção do profissional, pois se esse bebê não receber o acolhimento necessário neste momento inicial da vida, ele poderá ao longo de sua vida apresentar uma personalidade mais depressiva.
ÁUDIO – PROFISSIONAIS EM AÇÃO – 25/05/2020
ReferenciaFORNELOS, M; RODRIGUES, E; GONÇALVES, M.J. Depressão no bebé. Análise Psicológica, v.21, n.1, lisboa, 2003. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312003000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt