O brincar pode ser visto de formas múltiplas em diferentes linhas teóricas da Psicologia. Para tanto, se escolheu a abordagem psicanalítica como base teórica, que embasará as reflexões acerca da importância do brinquedo no desenvolvimento infantil. De acordo com Freud (1989), o brincar é considerado como simbólico, meio pelo qual a criança elabora questões que são de maior prioridade para si. É importante deixar a criança se sentir confortável, para se expressar afetivamente de maneira livre e criar um espaço acolhedor em que ela se sinta segura para isso.
No brincar, a criança relaciona o mundo inventado com o real, ela se sente bem fazendo essa ponte, criando situações em que sua imaginação, sua brincadeira se ligue a vivências do cotidiano, mas ao seu modo. Por isso a importância do brinquedo (objeto), pelo qual a criança simboliza no brincar situações concretas, as quais busca organizar psiquicamente e que podem dar um norte ao psicólogo perinatal e da parentalidade, evidenciando os conteúdos que precisam ser trabalhados com a criança e a família. Apesar, da criança empregar seu afeto no brincar, dar-lhe especial atenção e se dedicar afetivamente, ela é perfeitamente capaz de diferenciar o mundo de brincadeira, seu “faz de conta” e o mundo real.
Posteriormente, Melaine Klein, contribuiu com a psicanálise em seu método de atendimento infantil. Segundo sua concepção o brincar representaria um meio pelo qual a criança se expressa, como forma de substituir a fala, ela se comunica desta maneira, quando sua linguagem está sofrendo interferência por sentimentos de angústia. Há também que se analisar aspectos de transferência na relação da criança com o terapeuta, pensando nos afetos e ações expressados pelo analisando. O analista deve estar atento a forma com que a criança brinca, as motivações da escolha de objetos e os conteúdos que se apresentam durante essa atividade lúdica (FORTESKI, R. et al, 2014).
O brincar se equipara nessa perspectiva ao sonho, que também apresenta-se para o indivíduo através de símbolos, que precisam ser analisados e interpretados pelo analista. Todavia, para que se considere o brincar, como expressão do inconsciente é necessário um processo de repetição do conteúdo e que este se vincule a atendimentos anteriores. Outra contribuição nesse sentido nos foi fornecida por Winnicott, o mesmo propõe que o brincar é algo que deve ser visto como uma experiência que engloba a vivência da fase infantil (FORTESKI, et al., 2014).
Sendo visto como favorável algo a priori e não como produto de repressão ou angústia. É uma ação inerente a ser criança, cada uma se expressará de forma singular. Aponta que em psicoterapia, o analista deve ter como principal instrumento terapêutico uma relação na qual brinque com a criança. Este brincar por si só traria benefícios ao analisando. Assim, valeria mais o brincar em conjunto, do que um terapeuta com postura rígida, que se fixasse apenas no serviço de uma análise, sem vinculação
com a criança.
Pode-se perceber que na psicanálise existem diferentes percepções sobre o brinquedo e o brincar, algumas complementares entre si e outras com pontos de vista diferentes, entre os autores supracitados. Apesar de algumas divergências, todos os autores apontam que a atividade lúdica é favorável ao processo de desenvolvimento infantil. Sendo um instrumento indispensável no atendimento infantil e na orientação de pais sobre a importância do brincar na vida das crianças, o psicólogo pode inclusive, estimular os pais a brincarem com seus filhos, promovendo momentos de troca, de afeto e fortalecimento de vínculos.
O brinquedo para a criança é essencial, como meio através do qual encontra formas de se expressar, elaborar conteúdos internos e externos, podendo se preparar para as próximas etapas de sua vida. Também é válido ressaltar que esse brincar pode simbolizar um preparo para a vida adulta, como por exemplo, ao brincar de boneca a criança simboliza atitudes e práticas parentais, a forma como está internalizando os cuidados que recebe de suas figuras parentais e/ou cuidadores mais próximos.
Assim, por meio da internalização e vivência dessas imagens, há um processo de construção do seu próprio modelo parental futuro. Por isso, é importante permitir que tanto meninos, como meninas possam brincar de boneca, de casinha, não se prendendo a questões de gênero, como impedimento para o brincar. Pois, isso pode ser positivo na construção do tornar-se pai e mãe, promovendo uma sociedade com pessoas que se envolvam afetivamente com os filhos e as funções parentais. Por isso, se diz que a parentalidade é construída desde a infância, desde as primeiras brincadeiras e fantasias e não a partir do momento em que se descobre a gestação.
REFERÊNCIAS:
FORTESKI, R. et al. Três abordagens em psicoterapia infantil. Revista Cesumar – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, 2014.
FREUD, S. Escritores criativos e devaneio, vol. IX. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago, 1989.