Texto: Emanuelle Ribeiro Tinel / CRP – 03/23666
A gestação é uma fase que envolve transformações biopsicossociais, provocando intensas mudanças na vida da mulher-mãe e a necessidade de reestruturação de identidades e papéis. A vinculação da mãe com seu bebê é uma construção suscetível às influências sociais, culturais e subjetivas. Sobre isso, a literatura em Psicologia e Desenvolvimento Humano é profícua em apontar a influência da qualidade desse vínculo junto à estruturação psíquica do bebê (WINNICOTT, 1990; BOWLBY, 2002).
A medida que estudiosos apontam o impacto que um vínculo disfuncional pode acarretar ao frágil e ainda emergente psiquismo infantil, também relacionam sua ocorrência às características psíquicas (conscientes e inconscientes), pessoais e contextuais às quais estejam submetidas as mães (WINNICOTT, 1990).
Assim sendo, mostra-se relevante que as gestantes recebam um acompanhamento integral para que possa preparar-se para os reveses da gravidez e da pós-maternidade. Além de encontrar um espaço em que possam dar voz às angústias, inseguranças e incertezas que marcam esse período e que podem – distanciando-se de sua cultural romantização – também transformá-lo como um período propício ao sofrimento psíquico.
Dentro deste contexto, emerge a importância da Psicologia Perinatal no acolhimento e intervenção junto às gestantes tanto no serviço público quanto na clínica. O ideal é que o serviço de pré-natal pudesse ser desenvolvido em equipes interdisciplinares com enfermeiros, médicos, farmacêuticos e assistentes sociais.
Vale ressaltar que, dentre as políticas públicas de saúde destinadas ao público de gestante, não há a previsão de um pré-natal psicológico, entendido aqui como um grupo de ajuda mútua que funciona como espaço de escuta em que o psicólogo acolhe as demandas relativas às mudanças emocionais e sociais da gravidez (BORTOLETTI, 2007).
A Atenção Básica de Saúde, que realiza o pré-natal, dispensa-se a referenciar as gestantes identificadas com problemas psíquicos para outros serviços ou níveis de atenção e apenas quando já identificadas com sintomatologias mais graves.
Partindo desses pressupostos, o pré-natal psicológico, visa ofertar um acompanhamento às mulheres durante a gestação e também no pós-parto. Pois, entende-se que o acompanhamento pode desempenhar, concomitantemente, funções de promoção de saúde mental para as mães e fatores de proteção ao desenvolvimento de vínculos afetuosos e estáveis da mãe com seus filhos.
Levando-se em consideração as transformações complexas do ciclo gravídico-puerperal, além do conhecimento que a qualidade do cuidado prestado pela mãe no início da vida pode marcar a constituição psíquica da criança, mostra-se indispensável que as gestantes tenham um suporte profissional para enfrentar os percalços oriundos da maternidade e pós-maternidade em suas vidas. Sobre isso, Stelin et al. (2011) apontou a necessidade de espaços de escuta para as mulheres abordarem as questões relacionadas com o transcurso da maternidade abordando os sentidos pessoais de construção da maternagem.
Portanto, identifica-se a importância de espaços de escuta e discussão em que possam ser trabalhados a influência dos aspectos socioculturais da maternidade em consonância com seus significados pessoais e que levarão a experiência da maternagem a assumir sempre uma configuração única, para cada uma das mulheres.
Referências
BORTOLETTI, Fátima Ferreira. Psicoprofilaxia no ciclo gravídico puerperal. In: A. F. Moron, F. F. Bortoletti, J. Bortoletti Filho, M. U. Nakamura, R. M. Santana, & R. Mattar. Psicologia na prática obstétrica: abordagem Interdisciplinar. Barueri, SP: Manole, (2007).
BOWLBY, John. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
STELLIN, Regina Maria Ramos et al . Processos de construção de maternagem. Feminilidade e maternagem: recursos psíquicos para o exercício da maternagem em suas singularidades. Estilos clin., São Paulo , v. 16, n. 1, p. 170-185, jun. 2011 .
Winnicott. O bebê e sua mãe. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Winnicott. O ambiente e os espaços de maturação: estudo sobre a teoria do desenvolvimento emocional. São Paulo: Martins Fontes, 1990.