Por Danielle Santos Leandro Gomes de Souza, Psicóloga. CRP: 17/2102

O Puerpério, assim como a gravidez, é um período vulnerável a crises, devido às profundas mudanças desencadeadas pelo parto e pelo nascimento do bebê (MALDONADO, 2017). Esta é uma fase que sucede o parto e se inicia com o nascimento. Para a medicina, fisiologicamente falando, ele vai até algumas semanas após o parto, pois é o tempo em que o organismo sofre mudanças fazendo com que os hormônios, fluxo sanguíneo, órgãos vão se regulando e voltando ao estado pré-gravídico.

 Para Vasconcelos e Teng (2010) tão interessante quanto analisar as modificações fisiológicas durante a gravidez, é entender o quanto rapidamente tais mudanças regridem depois do parto. A maior parte das mudanças ocorridas involuem em 2 e 4 semanas e praticamente todas elas regridem em 40 dias. Puerpério seria o período pós-parto em que tais mudanças se completariam, com o retorno do organismo feminino às condições pré-gravídicas.

Já para a psicologia, este período dura de 2 a 3 anos após o nascimento, podendo ser menos ou mais, pois na prática esse tempo não é padronizado devido as mudanças comportamentais que são diferentes das físicas. O psicológico da mulher não tem como voltar ao estado pré-gravídico, pois ela não pensa e não age mais como antes, por isso esse período é considerado uma fase de adaptação. Não há como a mulher voltar a ser a mesma de antes de ter filhos, porque ela agora é outra, com novas e diferentes vivências. É nesse momento que são percebidos sentimentos de angústia, ansiedade, insegurança, medo e incapacidade nos cuidados com o bebê, também pode ocorrer alteração do sono, apetite e fadiga.

No pós-parto a mulher lida com o bebê real e não aquele que passou idealizando durante gestação. É comum que a mãe idealize características físicas e comportamentais em relação ao seu bebê, mas dificilmente a realidade acompanha o que foi imaginado. Por exemplo, na gestação a mãe pode imaginar que nascerá um bebê rechonchudo e sem cabelo, mas o bebê que nasce tem características contrárias ao esperado. Ou ela pode imaginar uma criança sempre quietinha, calminha, e nasce uma criança inquieta, dentre outras situações.

Sobre esse processo Maldonado e Dickstein (2010) explicam que a diferença do bebê imaginado no decorrer da gravidez e o de “verdade” pode trazer desapontamento e frustração; a mulher também se vê de modo mais concreto, cara a cara com o compromisso e a responsabilidade de acompanhar o desenvolvimento do filho, com todas as dúvidas e temores com relação a essa tarefa. Muitas mulheres são pegas de surpresa com a nova realidade após o nascimento. Muitas sentem dificuldade em lidar com a nova rotina de cuidados com o bebê, aliado ao cansaço, privação de sono e inúmeras demandas do bebê que a impedem de relaxar.

Sobre a chegada do filho em casa, após o nascimento, Maldonado aponta que simbolicamente, poder-se-ia dizer que há dois partos: um onde o bebê nasce e outro no dia da alta hospitalar, quando ele “nasce para os pais” (MALDONADO, 2017). Geralmente a mulher acredita que a maternidade é apenas um momento de plenitude e felicidade, tudo belo e suave. E quando a maternidade se inicia de fato, no real com a chegada do filho, nem sempre todo esse sonho prevalece e a mulher começa a se sentir inadequada e diferente das outras porque não imaginava que a realidade seria assim.

Muitas vezes a sociedade não permite que a mãe fale sobre os incômodos tão comuns desse período, ela não pode falar dos dissabores tão reais e presentes nessa fase, como se lhe tivesse sido imposto sofrer calada. Sendo mais aceito o falar apenas das faces suaves e enfeitadas, estas também são parte, mas não é a única faceta da maternidade.

As recém-mães precisam de espaço para vivenciar o puerpério sem fingimento de que tudo vai bem, precisam aceitar que é algo real em vez de tentar demonstrar só felicidade, ter a liberdade para desabafar que o momento é difícil sem julgamentos. É preciso desmistificar a ideia de que evitar falar dos processos difíceis da maternidade eles desaparecerão, as suas dificuldades precisam ser faladas. O melhor é entender e incorporar todas as faces da maternidade para que as facetas desconhecidas possam ser vistas e cuidadas uma a uma. Permitindo assim que os pais entendam e enxerguem com clareza que podem passar por esse momento de forma consciente, tranquila e principalmente saudável.

REFERÊNCIAS

MALDONADO, M. T. Psicologia da Gravidez: Gestando pessoas para uma sociedade melhor. São Paulo: Ideias e Letras, 2017.

MALDONADO, M. T.; DICKSTEIN, J. Nós Estamos Grávidos. São Paulo: Integrare, 2010.

TUNG, Teng Chei; VASCONCELOS, Alexandre Augusto Jatobá. Psiquiatria Perinatal: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu, 2010.

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