Texto: Thaísa Tobias – CRP/08 33156
Pensando na ambivalência e nos três trimestres da gestação, passaremos daqui em diante a discorrer sobre as particularidades de cada um para uma melhor compreensão desses fenômenos. Em geral, o primeiro trimestre é o mais ambivalente desse período é um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo, em que há a descoberta da gestação, permanece a dúvida se essa gravidez é real, mesmo com o teste positivo. Pois, o feto é ainda muito abstrato para a mulher que o carrega em seu ventre, ela não o sente se mexer, não vê o crescimento da barriga, existe um misto entre acreditar e desacreditar da gravidez.
Há também a incerteza se este é o melhor momento para tornar-se mãe, que pode vir em conjunto com a crença de que a criança veio na hora certa. O risco de um aborto espontâneo nessa fase inicial da gestação é mais eminente, fazendo com que a mulher se apegue afetivamente ao filho e contraditoriamente tente não se apegar muito, como forma de autoproteção.
Outro ponto é que nesses primeiros três meses enjoos, vômitos, sensação de tontura, podem contribuir para uma vivência na qual a mulher pode gostar da ideia de estar grávida e ao mesmo tempo não gostar da experiência que está vivendo na gestação, devido ao mal estar físico que sente e que inevitavelmente interfere em sua saúde mental, emocional e qualidade de vida como um todo (LEITE, et al., 2014).
O segundo trimestre tende a ser o mais tranquilo, no qual a mulher já consegue sentir o feto começar a se mexer, entre o quarto e quinto mês. A barriga começa a crescer, já se passou a fase com maior risco de abortamento espontâneo, aqui o bebê já se torna mais real, mais concreto para a mãe, que já possui, inclusive, informações significativas sobre a saúde do filho, seu desenvolvimento intrauterino, sua formação anatômica e fisiológica, o que pode trazer mais calma para a gestante, em situações, nas quais a gestação não corre risco, ou que está dentro daquilo que é considerado esperado pela sociedade.
Essa legitimação e incentivo social são fatores favoráveis para a saúde mental materna, quando esta é elaborada de forma mais positiva que negativa e mais receptiva pela mulher. Conflitos internos podem acontecer nessa fase em relação ao corpo grávido, ou ainda quando a mulher gostaria de ter o filho de determinado sexo, mas ao descobrir o sexo oposto se frustra incialmente, sente amor pelo filho e mesmo assim, sente descontentamento pelo sexo do bebê real, que destoa do bebê que ela idealizou em suas fantasias, construídas desde a sua infância.
O terceiro e último trimestre é aquele em que a grávida, começa a ter os sintomas de ansiedade elevados, esse é o momento em que a gestação se aproxima do momento do parto e ela precisa se preparar para a chegada do bebê real. Pensar nos preparativos necessários que precisam ser concretizados em tempo hábil, como o enxoval, se certificar que nada está faltando ou providenciar, se for o caso, se estruturar emocionalmente para as mudanças que surgirão em sua vida pessoal, profissional, social e familiar. A ambivalência pode estar ligada ao parto, o desejo de conhecer o filho e o medo da dor do parto. A vontade de ser mãe e o peso da responsabilidade que isso trará. O sentimento de felicidade pela chegada do filho, e a tristeza pelo luto da barrida de grávida, que até então abrigava o filho em seu interior.
Portanto, pode-se perceber que cada trimestre gestacional é marcado por eventos e sentimentos específicos que exigem da gestante e do casal grávido adaptação constante. Há gestantes que conseguem uma boa flexibilidade e adaptação, mas para aquelas que não conseguem essa experiência pode se tornar mais intensa. Proporcionando surgimento e aumento de alterações emocionais significativas, ou seja, altas taxas de estresse, ansiedade e até mesmo sintomas de depressão.
Nesses casos, o acompanhamento com um psicólogo perinatal e da parentalidade pode ser muito benéfico para a grávida. O psicólogo(a) perinatal é o profissional que pode realizar esse tipo de intervenção, trabalhando de forma conjunta, encontrando possibilidades de readaptação, como forma de prevenir o adoecimento mental materno e as alterações emocionais significativas que podem surgir na gestação e/ou puerpério. Caso já estejam ocorrendo alterações emocionais significativas, poderá trabalhar de forma a evitar que se acentuem durante a gravidez e/ou se cronifiquem no pós-parto. Podendo utilizar realizar trabalhos: como forma prevenção o pré-natal psicológico, em casos de intervenção a psicoterapia individual e os grupos de gestantes. Levando informação e acolhimento para que gestantes cuidem de sua saúde emocional e mental.
REFERÊNCIAS:
LEITE, M. G, et al. Sentimentos advindos da maternidade: revelações de um grupo de gestantes. Psicologia em estudo v. 19. n. 1, 2014.