Texto: Elida Garbo Guedes – CRP: 06/130417

Nossa primeira morada foi um útero. Esse útero é parte de um corpo complexo que ao longo da gestação se reorganizou, realocou órgãos, mudou seu centro de gravidade, dividiu as reservas de nutrientes, protegeu, esperou, até que cada pedacinho nosso fosse construído e por fim pudesse nascer. E então saímos dessa morada para encarar a jornada da vida.

Esse corpo complexo, que contém esse útero, que nos gerou é uma mulher! Não é um simples receptáculo. Essa mulher carrega uma personalidade, uma história de vida, marcas, dores e sonhos. Gerar um filho é uma das infinitas possibilidades dela, não a única! Esse corpo ao gerar um bebê se torna mãe!

Ao engravidar a mulher vivencia muitas transformações em sua vida, começara a desempenhar o papel de mãe que será desafiador, irá fazer com que ela entre em contato com emoções antes não sentidas, com crenças sobre sua capacidade, sobre o outro, a fará lidar com a sua mãe internalizada, assim como seus sonhos se reorganizarão, pois, esse filho que se constrói permeará toda a sua existência de agora em diante. Ser mãe irá mudar a vida da mulher, mas é importante deixar claro que falo aqui de mudanças reais, que requerem adaptações muitas vezes difíceis, é fundamental que consigamos descontruir a ideia fantasiada de “transformação mágica da mulher ao se tornar mãe”.

Essa fantasia é bastante prejudicial à saúde mental da gestante, pois ao acreditar que magicamente desempenhará o papel de mãe sem dificuldades, sem dúvidas e será perfeita, essa mulher está suscetível a adoecer emocionalmente quando a realidade crua se apresentar a sua frente. Exercer a maternidade implicará em mudanças, e mudar dói! Dói porque o novo que se anuncia é ainda sem contornos, ele precisará ser construído, lentamente será feito, com acertos, com erros, com dúvidas. Dia a dia a maternidade será construída conforme essa mulher cuida e aprende com seu bebê.

         Então essa mulher precisa ser cuidada, sua saúde mental merece atenção. Cuidar da saúde mental da mulher grávida será cuidar do futuro da sociedade! Filhos de mulheres saudáveis emocionalmente se desenvolvem também de maneira saudável. É isso mesmo! Uma mulher que se sente respeitada, cuidada, valorizada e está saudável emocionalmente poderá exercer esse papel de mãe com muito mais qualidade, poderá educar com sabedoria e então formar um ser humano bom, seu filho, um sujeito amoroso, que respeite e esse sujeito poderá um dia, se quiser, ter filhos também, e esse ciclo se renova constantemente.

         O adoecimento mental da gestante é real e nos obriga a desconstruir a ideia mágica que permeia esse período, ansiedade prejudicial, humor deprimido, estresse são fenômenos que podem ocorrer durante a gestação e precisam ser cuidados com auxílio de profissionais. A psicologia perinatal e da parentalidade pode ser o suporte para o enfrentamento desses fenômenos e favorecer a construção de uma maternidade saudável, por meio de um espaço de cuidado, suporte, acolhimento, orientação e construção conjunta. E assim seguimos contribuindo para uma sociedade mais saudável.

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