Por Dra. Dafne Rosane Oliveira CRP/0115113

A gestação é um evento de vida de extrema importância na vida da mulher e seu entorno, dadas as inúmeras mudanças físicas, emocionais e sociais que são acarretadas. Segundo Maldonado (2017) a gravidez é considerada um período extremamente importante na construção dos alicerces da saúde e do bem-estar futuros. Discute-se a importância de olhar para os eventos ocorridos na vida intrauterina, como por exemplo, deficiência nutricional e estresse emocional, como possíveis catalizadores do aumento do risco de algumas doenças na idade adulta. Por isso a necessidade do direcionamento de políticas públicas para a atenção cuidadosa às mulheres grávidas e seu entorno.

Durante o ciclo gravídico puerperal existem diversos cuidados necessários com a saúde da mãe e de seu filho não nascido. O pré-natal é uma ferramenta para prevenção e detecção de possíveis patologias maternas e fetais, tratamento das condições existentes, buscando a redução de riscos e desenvolvimento adequado ao feto, o que repercute na diminuição da morbidade e mortalidade materno infantil. (Marchetti, Oliveira, Fernandes, Nicolao, 2020)

Sob a perspectiva do cuidado com a saúde mental da gestante, é discutido na literatura a importância do chamado pré-natal psicológico, como ferramenta que trará informações importantes para a compreensão do ciclo gravídico puerperal. A par desse conhecimento espera-se que diminuam as chances de alterações emocionais significativas.

Arrais, Mourão e Fragalle (2014) apresentam que o pré-natal psicológico é um conceito em atendimento perinatal voltado para maior humanização do processo gestacional, do parto e da parentalidade que, associado a fatores de proteção presentes na história das grávidas pode ajudar a prevenir a depressão pós-parto.

Arrais, Araujo e Schiavo (2019) discutem que depressão e ansiedade são quadros importantes a serem investigados na gestação, o que reforça a importância da realização do pré-natal psicológico. Schiavo (2016) aponta que cerca de 35% das gestantes apresentam sintomas de alta ansiedade e cerca de 25% manifestam sintomas de depressão.

A literatura sobre a exposição a eventos estressores e traumas é consensual ao afirmar que o sofrimento psicológico subsequente à exposição a um evento traumático ou estressante é bastante variável. (Associação Psiquiátrica Americana, 2013) Ou seja, a forma como cada gestante viverá os eventos estressores durante o ciclo gravídico puerperal será única, mediada por uma confluência de fatores biológicos, físicos, sociais e emocionais, somados a características individuais de personalidade, experiências de vida e a rede de apoio.

Um dos estressores possíveis é vivenciar um desastre. Considera-se desastre como um acontecimento devastador que atinge um ambiente sem recursos suficientes no seu cotidiano para enfrentar tal adversidade. Nas últimas décadas é comum se deparar com notícias da ocorrência de desastres. No mundo todo, a vulnerabilidade socioambiental somada a ameaças, deflagra uma série de desastres como: furacões, tsunamis, secas, deslizamentos, inundações, incêndios, epidemias, conflitos armados, dentre outros. No Brasil, as principais ocorrências são hidrológicas, envolvendo a falta ou a abundância das águas.  (Oliveira, 2018)

Esse contexto figura a situação como geradora de estresse e preocupações por parte das gestantes, o que pode levar a alterações emocionais significativas. Simcock et al. (2018) estudou o efeito no neurodesenvolvimento aos 6 meses de idade em relação a gestantes que tiveram seus cuidados de pré-natal durante um desastre natural. Trata-se das inundações repentinas em Queensland, na Austrália, em janeiro de 2011. Os dados mostram que os cuidados contínuos durante o pré-natal influenciam positivamente aspectos do neurodesenvolvimento infantil cujas mães foram afetadas por enchentes durante a gravidez.

O estudo de Tsutsui, Ujie, Takaya e Tominaga (2020) investigou mães e crianças que vivem em áreas de risco relacionadas ao desastre nuclear de Fukushima. Os resultados sugerem que os efeitos psicológicos em mães e crianças que vivem em áreas contaminadas com radiação de baixa dose continuaram por pelo menos cinco anos após o acidente, relacionados com índices de ansiedade e estresse dos pais. Os autores discutem a importância de proteger as gestantes e mães de crianças pequenas com ações eficazes de atendimento e apoio psicológico e ressaltam a viabilidade da escala produzida por eles para avaliar os efeitos psicológicos associados ao acidente nuclear.

Portanto, é de extrema importância que a gestante que esteja vivendo um desastre possa ser acompanhada devidamente em seu pré-natal e, no pré-natal psicológico. Ressalta-se que um profissional capacitado, como uma psicóloga ou psicólogo perinatal, tem as ferramentas para orientar adequadamente as gestantes diante às dificuldades enfrentadas com o desastre, o que pode diminuir as chances de alterações emocionais significativas. 

Gostou desse conteúdo? Quer saber mais sobre Psicologia Perinatal? Faça parte da maior comunidade de formação de psicólogos perinatais da América Latina. Conheça toda nossa estrutura aqui e sinta segurança na hora de atender gestantes e mulheres no pós-parto.

Gostou desse conteúdo? Quer saber mais sobre Psicologia Perinatal? Faça parte da maior comunidade de formação de psicólogos perinatais da América Latina. Conheça toda nossa estrutura aqui e sinta segurança na hora de atender gestantes e mulheres no pós-parto.


{"email":"Email address invalid","url":"Website address invalid","required":"Required field missing"}