Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353

O estresse é um conjunto de respostas que o organismo emite para reagir frente a algo que o despertou. Quando o organismo é exposto frequentemente a situações que desencadeiam as reações de estresse o corpo passa a trabalhar com maior gasto de energia. Ele pode ser entendido como uma resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas e/ou externas ao organismo. 

O hormônio do estresse recebe o nome de cortisol, este é produzido pela glândula suprarrenal e é responsável por manter os níveis da pressão sanguínea e açúcar no sangue em equilíbrio. 

O estresse pode enfraquecer o sistema imunológico, aumentando as chances de infecções como, também, pode afetar os aspectos afetivos emocionais do sujeito, favorecendo o adoecimento. 

É comum gestantes apresentarem estresse, pesquisas indicam que mais de 50% das grávidas apresentam estresse em algum nível (SEGATO et al. 2009; WOODS et al. 2010; RODRIGUES e SCHIAVO, 2011; CAMARGO e CARRAPATO, 2012). 

Lipp (2000) elaborou um instrumento que permite avaliar se um sujeito tem estresse ou não, quando tem, permite saber em que fase do estresse está. As fases do estresse para Lipp são: Alerta, Resistência, Quase exaustão e Exaustão. Esse não é um instrumento elaborado para avaliar estresse em gestantes, mas na falta de instrumentos específicos, profissionais e pesquisadores têm utilizado ele. 

Em meus trabalhos tenho percebido que a maior parte das gestantes apresenta estresse na fase de resistência que é uma fase ainda intermediaria do estresse (RODRIGUES; SCHIAVO, 2011; SCHIAVO; RODRUIGUES, 2011; SCHIAVO, 2016), entretanto, apesar de haver uma alta prevalência de gestantes estressadas, esse estresse na fase de resistência parece não causar sérios problemas à saúde materno-fetal. 

O estresse principalmente no final da gestação parece ser algo comum e até esperado, pois, a mulher está para entrar em uma nova fase do seu desenvolvimento, se é primigesta agora ela vai ter que deixar de exercer apenas o papel de filha e passar a desempenhar também, o papel de mãe, se ela já é mãe de um filho agora terá que ser mãe de dois e assim por diante. Esta situação nova pode ser considerada um evento estressor, que não necessariamente deve ser considerado como um fator ruim. Os temores em relação ao parto, o medo de que ela ou o bebê morra no parto, preocupações financeiras, conjugais, de rede de apoio, em relação ao corpo, entre vários outros motivos que são subjetivos para cada gestante, são fatores que podem gerar na grávida os sintomas de estresse. 

Apesar do estresse nas fases iniciais (alerta e resistência) ou em níveis não elevados, poder ser considerado normal, o estresse muito elevado ou em fases avançadas (quase exaustão e exaustão), não deve ser negligenciado. Altos níveis de estresse podem influenciar negativamente na saúde da mãe e do feto. 

Altos níveis de e stresse materno durante a gestação aumenta o risco à pré-disposição ao desenvolvimento de doenças mentais, pois, pode provocar perturbações na etiologia do desenvolvimento neural do feto (ELLMAN et al., 2008; WATSON et al., 1999) e em doenças alérgicas e maior propensão à asma nos filhos (ENLOW et al., 2009; WRIGHT et al. 2010), nascimento prematuro e baixo peso (TORCHE; KLEINHAUS, 2012; MONK et al., 2003). 

Segato et al. (2009) investigaram as principais fontes de estresse na gestação, identificando: problemas relacionados a gestação (medo do parto, de perder o bebê, de engordar demais e, a gravidez não planejada); problemas cotidianos (ruídos do ambiente, condições climáticas, transito, convívio com companheiros de trabalho, relação com público); situação econômica difícil e fatores familiares (discussão e desestruturação familiar, preocupação com filhos). 

Diante à esse quadro, podemos perceber que é muito importante a atuação do psicólogo na avaliação da saúde mental de gestantes. O correto seria existir a cultura do pré-natal psicológico em nosso país, assim os possíveis prejuízos à saúde física e mental de mães e seus bebês poderiam ser prevenidos. 

Referencias 

CAMARGO, A. P; CARRAPATO, J. F.L. Relação existente entre nível de estresse e perfil socioeconômico de gestantes. Cadernos Brasileiro de Saúde Mental. Florianópolis, v.4, n.10, p.105-133, 2012. 

ELLMAN, L.M et al. Timing of Fetal Exposure to Stress Hormones: Effects on Newborn Physical and Neuromuscular Maturation. Dev. Psychobiol, v.50, n3, p.232-241, Apr. 2008. 

ENLOW, M.B et al. Associations of maternal lifetime trauma and perinatal traumatic stress symptoms with infant cardiorespiratory reactivity to psychological challenge. Psychosom Med. v. 71, n.6, p.607-614, Jul. 2009. 

LIPP, M.N. Manual do Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL) . São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

MONK, C. et al. Effects of women’s stress-elicited physiological activity and chronic anxiety on fetal heart rate. Dev. Behav. Pediatr., v.24, n.1, p.32-38, 2003.

RODRIGUES, O. M. P.R; SCHIAVO, R.A. Stress na gestação e no puerpério: uma correlação com a depressão pós-parto. Revista de Ginecologia e Obstetrícia, v.33, n.9 p.252-257, 2011. 

SCHIAVO, R.A; RODRIGUES, O.M.P.R. Stress e a mulher: gestação e puerpério. In: VALLE, T.G.M; MAIA, A.C.B. (Orgs). Psicologia do desenvolvimento humano e aprendizagem . São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011 p. 149-167. 

SCHIAVO, R.A. Desenvolvimento infantil : associação com estresse, ansiedade e depressão materna, da gestação ao primeiro ano de vida. 2016. 150f. Tese (doutorado em Saúde Coletiva) – Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2016. 

SEGATO, L et al. Ocorrência e controle do estresse em gestantes sedentárias e fisicamente ativas.Revista da educação Física /UEM, Maringá, v.20, n.1, p.121-129, 1.trim. 2009.

TORCHE, F; KLEINHAUS, K. Prenatal stress, gestational age and secondary sex ratio: the sex-specific effects of exposure to a natural disaster in early pregnancy. Human Reproduction. v. 27, n.2, p. 558-567, 2012.

WATSON, J. B; MEDNICK, S. A; HUTTUNEN, M; WANG, X. Prenatal teratogens and the development of adult mental illness. Development and Psychopathology , v.11, n. 3, p. 457-466, 1999.

WRIGHT, R. J et al. Prenatal maternal stress and cord blood innate and adaptive cytokine responses in an inner-city cohort. Am J Respir Crit Care Med , v.182, n.1, p. 25-33, 2010.

WOOD, S.M. et al. Psychosocial stress during pregnancy. Am. J. Obstet. Gynecol., v.202, n.1, p.61.e1-7, Jan. 2010.

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