Texto: Emanuelle Ribeiro Tinel CRP – 03/23666

Mundialmente, estima-se que 30% da população adulta tenha algum transtorno mental. A incidência e prevalência do adoecimento psíquico é maior em mulheres, sendo 02 afetadas a cada 03 pessoas. Inclusive, a depressão e a ansiedade são umas das principais causas de incapacidade laboral no Brasil (SANTOS, DINIZ, 2018).

A historiadora Bezerra (2017), reflete sobre as condições sociais que são imputadas às mulheres, a partir do momento que se experiencia a maternidade. O sistema patriarcal, definidor deste papel social, impacta nas possibilidades de existência destas mulheres, assim como, dificulta a sua saída dos espaços privados.

Assim, donas de casa são apontadas como parte do grupo com maior prevalência de adoecimento mental, fazendo parte também, do maior número de pessoas verificadas que fazem tratamento com psicotrópicos (SANTOS, DINIZ, 2018). Porém, é importante salientar, que os números podem ser ainda maiores, se for levado em consideração, que as pessoas mais vulneráveis, têm dificuldades de acessar o sistema de saúde, para possíveis diagnósticos e tratamento.

Entre os fatores de adoecimento psicológico, estão os aspectos biológicos, como primeira menstruação, ciclo gravídico e menopausa, que são reconhecidos como períodos de crise. Pois, além das alterações hormonais, há uma mudança estrutural dos novos papéis que serão vivenciados após estes marcos.

No que diz respeito às questões socioeconômicas, Santos e Diniz (2018) apontam a multiplicidade de papéis, que costuma ser desvalorizada e invizibilizada socialmente, como um impacto negativo na saúde mental das mulheres.  As autoras somam a isto, a jornada de trabalho repetida, a falta de autonomia econômica, falta de lazer e relações conjugais conflituosas.

Desta maneira, as relações assimétricas pautadas na desigualdade de gênero, são apontadas como agravantes para as dificuldades das mulheres após a maternidade. Igualmente, Badinter (2011) aponta que o casamento acarreta um custo às mulheres, pois é baseado numa divisão de tarefas desigual, tanto nas questões domésticas quanto na educação das crianças.

Sobre isso, Bezerra (2017) indica que as mulheres estão em desvantagem, por serem geralmente as únicas responsabilizadas pelos cuidados domésticos e exercício da parentalidade. Além disso, a autora ainda aponta que, quando estas mulheres tentam ampliar suas vidas para os espaços públicos, é mediante muito custo.

Dessa forma, o casamento desarmonioso somado à maternidade compulsória, podem ser compreendidos como fatores de risco à saúde mental das mulheres. E para auxiliá-las no processo de recuperação da saúde psíquica, se faz necessário um espaço de escuta livre de julgamentos, capaz de legitimar os sentimentos e a existência destas mulheres. Além disso, é importante ressignificar os papéis sociais exercidos após a maternidade, compreendendo-os como resultado da divisão de gênero, herança do patriarcado.

BADINTER, Elisabeth. O conflito: a mulher e a mãe. Rio de Janeiro, Record, 2011. BARBOSA, Priscilla Bezerra. O filho é da mãe. Fortaleza: Substância, (2017). SANTOS, Luciana da Silva. DINIZ, Glaucia Ribeiro Starling. Saúde mental de mulheres dona de casa: um olhar feminista-fenomenológico-existêncial. Pisc. Clin., Rio de Janeiro, v 30, n.I, p.37-59, 2018.

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