Texto por: Márjory Dowell de Brito Cavalcanti Matias / CRP 02/15.502 – Aluna Materonline
Durante o período da gestação muitas mulheres mudam sua rotina, gostos, corpos e toda essa mudança pode ser ou não prazerosa. Dentro das mudanças corporais, temos o batimento cardíaco, a pele, cabelo, barriga e aumento da mama. As mudanças psíquicas ocorrem por diversos fatores, é possível olhar o fato de que a mulher sai da posição de filha, quando ela se torna mãe pela primeira vez. Existe ainda a mudança social, pela qual a mulher passa ter privilégios em filas, na maioria das vezes passa a receber muito cuidados dos amigos, parentes e até estranhos, esse “cuidado” poderá ser acompanhado de palpites vindo de todos os lados, de como a mulher deve se portar diante da vida de agora em diante que se tornará mãe.
Porém a gravidez também é um período potencial de crise e existem três períodos característicos na mulher: o primeiro é a puberdade , que é quando ocorre a menarca, mudança dos seios e pelos. O outro período é a menopausa, onde surgem alterações emocionais significantes, além da saída dos filhos , o fim do período menstrual e mudanças no corpo, contudo, a fase perinatal que ocorre durante a gravidez é citado por diversos artigos como o de maior frequência de alterações emocionais e maior risco de adoecimento mental.
Entre os sentimentos presentes na gestação, a ambivalência é percebida em praticamente todas as mulheres, devido a mudança de humor e dúvidas a respeito das decisões tomadas e de como a vida mudou durante esse tempo, como exemplo: nuances do sentimento de amor e ódio, mudanças de antigos hábitos, como o uso de bebidas, cigarros, ida a festas.
É pertinente ressaltar que os dados estatísticos de saúde mental no período perinatal relatam como a sociedade fica feliz quando a mulher está grávida, como se a gravidez fosse fonte de felicidade para todas as gestantes. Muitas mulheres podem adoecer e não ter com quem compartilhar essa dor, porque sente que está errada em não estar satisfeita com um momento tão maravilhoso, porque acredita que não pode pensar negativo a respeito de como se sente para não se sentir julgada pelas outras pessoas.
Mais de 50% das mulheres que engravidam, não planejaram a gravidez, o sentimento de culpa, entre outros podem vir á desencadear alterações emocionais como uma forte ansiedade, estresse elevado e sintomas de depressão, levando ao adoecimento psíquico e podendo gerar transtornos depressivos e de ansiedade. Em geral se a mulher já apresenta algum transtorno antes da gravidez, pode voltar a apresentar durante a gestação. Todavia, um outro fator é saber se familiares próximos, como por exemplo: mãe, tias, avós tiveram algum tipo de transtorno durante sua gestação, deixando a pessoa em alerta para os sinais apresentados.
Cerca de 35% das gestantes no Brasil apresentam alta ansiedade, cerca de 60% tem estresse e cerca de 25% apresentam sintomas de depressão, porém no pós-parto, tendem a diminuir esses dados, como a alta ansiedade que cai para 30%, a depressão para 20% e o estresse para 49% de acordo com Schiavo (2016).
Entre os dados citados acima, o estresse gestacional e puerperal é um dos mais presentes, e convém explicar que o estresse é a liberação de um hormônio chamado cortisol que nos oferta energia e nos impulsiona para acordar, trabalhar entre outros. O estresse tem etapas: a primeira etapa é a fase de alerta, a fase inicial, esse tipo de estresse não causa dano como o exemplo do estresse gerado por ter que estudar para uma prova, porém, se o estresse permanece, o cortisol também permanece. Um outro exemplo é uma batida de carro, resolver seguro, concertos, pode vir a alterar questões físicas e psicológicas pelo tempo que demora para resolver. Esse tipo de estresse quando não acompanhado ou tratado pode gerar o estresse de resistência.
No caso da gravidez é normal existir preocupação, inicia nesse contexto o estresse de Alerta, desde a fase de transição da vida até os primeiros anos do filho. Porém se a mulher deixa de trabalhar, adoece, ocorre separação ou morte na família, pode-se iniciar um processo de rejeição do bebê, gerando estresses mais forte e duradouros, podendo liberar cortisol também para o bebê em grande quantidade.
É importante cuidar para não ter o estresse e expor a criança ao excesso de cortisol na gestação e no pós-parto, assim como é importante ter pessoas dentro do grupo de apoio que acompanhem essa mãe durante esse novo período de vida para que possa identificar possíveis alterações mentais, facilitando assim o processo de melhoria para que não evolua para uma possível depressão no período gestacional e puerperal.
Referencias: SCHIAVO, R.A. Desenvolvimento infantil: associação com estresse, ansiedade e depressão materna, da gestação ao primeiro ano de vida. 2016. 150 f. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2016.