Por Profª. Pós-Drª. Rafaela de Almeida Schiavo CRP/0693353

Cerca de 70% das gestantes desejam parto normal (Dias et al., 2008; Domingues et al., 2014; Leguizamon Junior; Steffani; Bonamigo, 2013), entretanto, tanto no setor privado como no público menos da metade das mulheres que desejavam parto normal, conseguem realizá-lo, principalmente quando a mulher é atendida no setor privado, onde mais de 80% dos nascimentos ocorrem por via cesariana (Domingues et al., 2014), provavelmente devido à preferencia dos obstetras por realizar o procedimento cesariana (Leguizamon Junior; Steffani; Bonamigo, 2013), fazendo com que o desejo da gestante pelo parto normal vá minando ao longo da gestação.

No Brasil foi publicada a pesquisa Nascer no Brasil: Inquérito nacional sobre parto e nascimento, que envolveu pesquisadores de várias instituições científicas do país, sob a coordenação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa indicou que em 2011 53.7% dos nascimentos no Brasil ocorreram por via cesariana sendo nos hospitais particulares a prevalência de 83% de cesarianas e 38% em hospitais públicos (Caderno de Saúde Pública, 2014).

Tal fato vem assustando centenas de mulheres no Brasil, que gostariam de ter parto normal, muitas delas são ativistas do parto humanizado, são mulheres que buscam informações, lutam por seus direitos, não se deixam ser enganadas por obstetras cesaristas, ou seja, estão bem informadas e sabem bem o que querem. Mas infelizmente, mesmo para estas mulheres o nascimento via cesariana, pode vir a ocorrer.

Quando uma mulher deseja muito o parto normal, estuda, e se prepara de todas as formas para realizar o parto normal e por algum motivo este parto não é possível, quando há realmente indicações de que o melhor naquele momento é a realização do procedimento cirúrgico, o sentimento de frustração é muito alto. Não raro mulheres nesta situação se sentem muito mal por vezes até desenvolvem sentimento de culpa por não terem realizado o sonho do parto normal. Estas acabam muitas vezes carregando um grande peso e uma sensação de incompetência, que não deveriam sentir.

Estamos a todo tempo falando da importância do parto normal, que acabamos deixando de lado o fato de que há sim também circunstancias em que é sim necessário a realização do procedimento cirúrgico, principalmente para salvar a vida da mãe ou do bebê. E já é hora de começarmos também a falar sobre isso e principalmente divulgar a importância deste procedimento para os casos que existem sim indicações.

Ao prepararmos as mulheres para que se sintam empoderadas para o parto
normal, precisamos também empoderá-las para que sejam fortes o suficiente também para receber uma cesariana indicada, só assim poderemos evitar sofrimento no pós-parto. Temos que falar também da cesárea humanizada, não é simplesmente realizar uma cesariana quando há indicações, mas há a necessidade de que a parturiente seja respeitada, que o bebê seja respeitado, que a mulher não precise ficar amarrada na maca, que mãe e bebê possam ficar juntos imediatamente após o nascimento, tudo isso poderá diminuir o sofrimento da mulher que desejou o parto normal e por algum motivo não foi possível.

Você mãe que sonhou tanto com um parto normal e por algum motivo não pode realizar este seu sonho, sinta-se acolhida por nós. Entendemos o seu sofrimento, sabemos que mesmo que você conscientemente saiba que foi o melhor a ser feito no naquele momento, ainda assim, é normal uma sensação de não realização, claro, quando não conseguimos alcançar nossos sonhos nos frustramos mesmo é natural, entretanto, lembre-se que você fez tudo o que podia, se preparou, estudou, analisou, todo o caminho foi percorrido com sabedoria, portanto você venceu! Parabéns, por ter feito o
certo, por ter feito a melhor escolha para você e seu filho, precisamos de mais mulheres assim, audaciosas, corajosas, guerreiras, deixo aqui a minha sincera admiração por você! Agora olhe para o futuro e deixe o passado no passado, pense o que é possível pegar como aprendizagem sobre o fato ocorrido. Cresça e se fortaleça com este aprendizado e vá em busca novamente de seus sonhos, pois sei que você temos vários.

Referências

CADERNO DE SAÚDE PÚBLICA. Rio de Janeiro, v.30, suplemento 1, 2014.
DIAS, M.A.B. et al. Trajetória das mulheres na definição pelo parto cesárea: estudo de caso em unidades do sistema de saúde suplementar do estado do Rio de Janeiro.


Ciência & Saúde Coletiva, v.13, n.5, p.1521-1534, 2008. DOMINGUES, R.M.S.M et al. Processo decisão pelo tipo de parto no Brasil: da preferencia inicial das mulheres à via de parto final. Caderno de Saúde Pública, v.30, suppl 1, 2014.

LEGUIZAMON JUNIOR, T; STEFFANI, J.A; BONAMIGO, E.L. Escolha de via de
parto: expectativa de gestantes e obstetras. Rev. Bioética, v.21, n.3, p.509-517, 2013.

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  1. Perfeito, o parto normal é a melhor escolha, mas também se faz necessário durante o pré natal que a parturiente seja orientada pelo seu médico dos percalços que eventualmente podem ocorrer durante a gestação, e que as vezes o querer da gestante naquele momento não pode ser atendido. Onde o normal se transforma em cesaria. Algumas lidam bem com isso , outras tem mais dificuldade em aceitar. Acho que toda gestante deveria ser psicoeducada sobre gestação.

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