Natalia Silva de Vargas CRP 07/29899

Com o avanço dos estudos nos afirmando que instinto materno não existe, e que a maternidade deve ser uma escolha única e exclusiva de cada mulher, tem crescido e muito em consultório a demanda de mulheres que estão em dúvida se querem realmente ser mães, ou até mesmo aquelas que já sabem que não desejam a maternidade, mas precisam lidar com a pressão social que lhes é imposta de quê, mais cedo ou mais tarde, podem arrepender-se dessa decisão. O papel social da mulher vem mudando ao longo da história, a maternidade era vista como algo natural e parte do desenvolvimento das mulheres, já que a grande maioria de nós não questionava esse passo. Falando do pequeno recorte do qual tenho experiência em clínica – mulheres brancas, cerca de 30 anos, relacionamento estável e carreira consolidada – os relatos se repetem: o que há de errado comigo se eu já me sinto feliz e completa? Sabemos que refletir sobre essa escolha já é um grande privilegio, já que a grande maioria das mulheres não tem acesso a um planejamento familiar ou simplesmente não é educada ou instruída a pensar sobre, já que a sociedade ainda quer que todas nós possamos cumprir os protocolos que esperam de nós. Afinal, o que motiva uma mulher a fazer essa escolha? Os motivos são inúmeros, vão desde os gastos financeiros que criar filhos necessitam, até mesmo abrir mão de certa liberdade que muitas demoramos anos para conquistar. O ingresso das mulheres no mercado de trabalho também favoreceu essa reflexão, já que muitas encontraram essa “completude” vivendo suas carreiras ou desenvolvendo o lado empreendedor. Mas ao final, a questão é que: as mulheres tem o direito de optar ou não por ter filhos. Uma família não é necessariamente formada por um casal – heterossexual – e com filhos. Poderíamos entrar aqui inclusive na pluralidade que se construí uma dinâmica familiar nos dias de hoje. O fato é que recebemos dezenas de mulheres anualmente no processo de psicoterapia com dúvidas sobre esse passo, ou até mesmo cansadas de precisarem se justificar – como se estivessem fazendo algo errado – porque querem ter uma vida alinhada com os próprios valores. O sofrimento é real, e frases como “será que existe algo de errado comigo?” são frequentes. Veja bem, aqui não falo de mulheres que tem medo da maternidade. Geralmente quando acompanhadas de um bom profissional da psicologia, especializado em perinatalidade, ela irá conseguir entender seu desejo e acolhê-lo. Mas falo das milhares de mulheres que não precisariam ter um acompanhamento para lidar com uma escolha se nossa sociedade lidasse melhor e respeitasse a escolhas dos outros. As mulheres vivem escutando palpites. Se opta pela maternidade, há sempre alguém julgando o momento, o(a) parceiro(a), a maneira de educar e de conduzir o maternar. Quando não optam, são julgadas como frias, egoístas, sem amor. Seguimos cobrando que as mulheres “deem conta de tudo” e não existe nada mais adoecedor que isso. Por fim, não há absolutamente nada de errado com você se a maternidade não for um plano para sua vida. Espero que possa sentir-se acolhida e amparada, e caso fique difícil lidar com tantos sentimentos juntos, um bom psicólogo perinatal pode te ajudar!

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