Por Emanuelle Ribeiro Tinel CRP – 03/23666

A filósofa francesa Badinter (1985), chocou o mundo ao defender que o tal “instinto materno”, insígnia de um amor incondicional e puro, não seria mais do que uma invenção moderna, com menos de 300 anos, e sujeita às variáveis histórico- sócio-culturais. Um mito, moldado e expandido, mas que na verdade esconderia um sentimento como outro qualquer. Assim sendo, é o amor materno um sentimento construído socialmente, com relações históricas, mas também na esfera individual a partir de experiências de cuidado que unem mãe e filho e permitem uma troca genuína física e emocionalmente.

 Se o amor materno não é natural, é do investimento e o cuidado que farão emergir o afeto. Sobre essa temática, Winnicott (1990) aponta que o psiquismo materno influenciará em sua capacidade de exercer as importantes funções da maternagem “boa o bastante”: segurar, manipular e apresentar objetos. Todas essenciais à saudável estruturação psíquica do bebê.

Winnicott (1999) descreve também a importância de compreender os sentimentos da mulher no período gestacional e puerperal e do desenvolvimento do que ele chamou de Preocupação materna primária, um estado em que estaria a mulher completamente focada no bebê, em estado de fusão emocional.

Bowlby (1989), por sua vez, estudou os efeitos dos cuidados maternos sobre as crianças e desenvolveu uma teoria sócio-emocional para explicar a necessidade inata dos humanos formarem laços afetivos íntimos. A Teoria do Apego ou da Vinculação explica que essa habilidade já está presente no recém-nascido. As primeiras relações com os pais ou substitutos formam um padrão de relação que envolvem senso de segurança, bem-estar e confiança e afetam o estilo de apego do indivíduo ao longo de sua vida.

 Ainsworth (1978 citado por DALBEM e DELL’AGLIO, 2005) aprofundou-se nos estudos sobre a Teoria de Apego de Bowlby e apontou, a partir de pesquisas empíricas, quatro categorias de apego: padrão seguro, padrão ambivalente ou resistente, padrão evitativo e padrão desorganizado ou desorientado. Essas categorias se formariam a partir das experiências de vínculos vividas nos primeiros anos de cuidado e representariam modelos internos que influenciariam o indivíduo em suas relações ao longo da vida.

O Apego Materno Fetal é definido por Cranley (1981 citado por SCHMIDT e ARGIMON, 2009) como “a intensidade com a qual a gestante manifesta comportamentos que representam a afiliação e a integração com sua criança intra-útero”. Em estudos sobre esse constructo, Schmidt e Argimon (2009) sugeriram a participação em grupos de gestantes como forma de fortalecer o apego mãe-bebê e com isso, promover a estruturação de laços emocionais positivos capazes de repercutir ao longo da vida.

Stellin et al. (2011), ao realizar uma análise psicanalítica da maternidade, discute os recursos psíquicos necessários para o exercício da maternidade. Então, para as autoras, mais do que condições e cuidados físicos o bebê precisa ser investido de desejo para que possa emergir a condição de sujeito. E da perspectiva materna, sentir-se mãe envolve as condições psíquicas adequadas nem sempre relacionadas ao torna-se mãe.

Romero e Cassino (2017) reiteram tal perspectiva em estudo empírico realizado junto a uma grupo de gestantes da Atenção Básica de Saúde e concluem que grupos de gestantes assumem um caráter psicoprofilático  para as mães. Sobre isso, elas afirmam que o atendimento auxilia no fortalecimento da autoestima, além de prevenir adoecimento emocional durante a gestação.

Ainda sobre a assistência às gestantes, Luzes (2007) defende a popularização de saberes sobre o que chama de “ciência do início da vida”, e que seriam relevantes para atravessar essa importante etapa da vida tanto para a nova geração quanto para a figura materna.

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985. LUZES. Eleanor Madruga. A necessidade do ensino da ciência no início da vida.Tese  (doutoradoemPsicologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto de Psicologia, 2007. ROMERO, Sandra Leria. CASSINO, Luciana. Saúde mental no cuidado à gestante durante o pré-natal. Revista Brasileira de Ciências da vida. v6. n 2, 2018. STELLIN, Regina Maria Ramos et al . Processos de construção de maternagem. Feminilidade e maternagem: recursos psíquicos para o exercício da maternagem em suas singularidades. Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 16, n. 1, p. 170-185, jun.  2011.   SCHMIDT, Eluisa Bordin. ARGIMIN, Irani Iracema de Lima. Vinculação da gestante e apego materno fetal. Ribeirão Preto: Paideia, 2009. Winnicott. O bebê e sua mãe. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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