Anna Carolina Silva Guedes de Araújo – CRP / 15/4579

“O transtorno de personalidade narcisista é um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia” (DSM-5). Uma pessoa que tem um transtorno de personalidade tem um padrão diferente – do que diz a norma social/cultural – de visão de si mesma, do mundo e do outro. Tendo uma inflexibilidade de pensamentos, um atraso no desenvolvimento psicológico, a inabilidade para reconhecer emoções e uma enorme dificuldade, ou incapacidade, de se importar com o outro.

Diante dessa explicação é possível saber, de antemão, que quando o transtorno narcisista se aplica no contexto da maternidade ele afeta todo o desenvolvimento da sociedade. Uma mãe narcisista é capaz de produzir muitos abusos sobre o(s) filho(s) e gerar um intenso sofrimento e adoecimentos psíquicos – tanto na(o) filha(o) escolhida(o) para ser a vítima (bode expiatório), quanto na(o) filho escolhido como o protegido (dourado).

A mãe narcisista só consegue enxergar a si mesma, suas vontades são as únicas que importam, e para conseguir o que quer ela tripudia em cima de todos que estiverem no seu caminho. É mais comum que a escolhida para bode expiatório seja a filha mulher, por uma questão da nossa cultura patriarcal e machista que gera competitividade e inveja entre mulheres a todo momento (com foco em questões físicas), mas, também acontece com filhos homens (com foco em questões sociais). Quando há a presença de um marido, esse se torna omisso diante de todo o contexto de abusos e violências. Ou seja, o narcisismo materno afeta todas as pessoas da família.

O transtorno narcisista é estruturado por ações que servem para tampar vazios emocionais, e muitas vezes, outros transtornos psicológicos. Por não saber lidar com a tristeza e a falta de afeto, por exemplo, a mãe narcisista pratica violências físicas (agressões) e psicológicas (chantagens emocionais e manipulações) contra a(o) filha(o). E por ter uma baixa autoestima, ela se esforça para rebaixar a(o) filha(o), humilhando e diminuindo seu valor, já que é a única forma de se sentir superior a alguém.

Por valorizar muito a aparência, a mãe narcisista cria um teatro para manter o status social de boa mãe (o que é esperado e aceitado pela sociedade que enxerga a maternidade de forma romântica e idealizada). Então, com a invisibilidade do sofrimento e a vivência dentro desse relacionamento tóxico é muito desgastante para as(os) filhas(os), pois além de sofrer as violências e abusos, são desacreditadas(os).

Ser vítima de mãe abusiva pode acarretar em diversas formas de sofrimento psíquico, como: depressão, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós traumático, transtornos alimentares, transtornos de personalidade (inclusive o narcisista, pois tem a característica de ser transgeracional), transtornos por uso de substâncias etc.

Para lidar com o adoecimento psíquico, é preciso investir na própria saúde mental. A(o) filha(o) de mãe narcisista deve estar em processo psicoterapêutico buscando o autoconhecimento e desenvolvendo estratégias para conseguir se desligar da mãe narcisista, acabando com a co-dependência. Visto que, o narcisismo patológico não tem cura (a mãe narcisista se vê como perfeita e correta, não terá nunca questões a resolver), então, é o distanciamento/o contato zero a única possibilidade de acabar com o sofrimento, deixar o papel da vítima e assumir a posição de sobrevivente. 

REFERÊNCIAS:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.ENGELKE, Michele. Prisioneiras do espelho: um guia de liberdade pessoal para filhas de mães narcisistas. (Ebook). Edição Digital, 2016.

Gostou desse conteúdo? Quer saber mais sobre Psicologia Perinatal? Faça parte da maior comunidade de formação de psicólogos perinatais da América Latina. Conheça toda nossa estrutura aqui e sinta segurança na hora de atender gestantes e mulheres no pós-parto.


  1. Nossa, haja investimento emocional para esse distanciamento. Minha opinião como filha de narcisista: é que o desgaste emocional é tão grande que não há forças pra sair de perto.

    1. Tbm sou um filho de narcisista. Sofro desde meus 9 anos. Hoje com 50 nada mudou. So piorou apos meu casamento reprovado por ela, embora já separado aindo sofro com minha mae.
      Sobre sua palavra, é possivel sim sair. Mas tem q formar nesta decisão e nao voltar atras.

  2. Como posso reconhecer se sou uma mãe narcisista, será que os problemas de relacionamento que tenho com minha filha adulta é consequência disso? Não me identifico com as características, mas se eu estiver tão doente que não consigo assumir? Mães narcisistas procuram meios de ser boas mães? Existe como saber?

  3. Nossa acho que minha mãe é uma mãe narcisista… e meu pai não é somente omisso… tem Ciclotimia como eu, TOC religioso… minha família é um caos… mas não se preocupe eu já tenho 45 anos, já fiz muita terapia, tudo o que eu tinha que sofrer eu acho que já sofri…

Comments are closed.

{"email":"Email address invalid","url":"Website address invalid","required":"Required field missing"}