Natalia Silva de Vargas CRP 07/29899

Inúmeras gestações não se desenvolvem e todos os dias mães choram a perda dos seus bebês. Mas não raro essas mulheres se sentem sozinhas e pouco acolhidas no seu luto, por uma sociedade que ainda precisa aprender a lidar com a dor em um momento que todos esperamos a vida e a alegria. O luto perinatal ainda é pouquíssimo difundido e não temos uma realidade que favoreça o luto dessas famílias, tendo em visto que há um despreparo emocional frente às condutas e postura com essa mãe. Mães enlutadas estão extremamente fragilizadas e precisam de apoio e suporte para sentir o turbilhão de emoções que é lidar com a morte de um filho. Dito isso, é essencial atentar-se para um fato: nenhuma perda é mais fácil do que a outra. Seja ela gestacional ou neonatal haviam expectativas frente à chegada desse bebê e uma família mobilizada, independente do sentimento, por essa espera. A dinâmica familiar muda quando uma mulher gesta, e além da organização física e ambiental que esta gera, há um espaço emocional que se abre para viver essa experiência. Quando o assunto é morte perinatal não há preparo, não há controle. E por mais que a grande maioria das perdas se dê antes das doze semanas de gestação, o impacto na saúde emocional dessa mulher é gigantesco e ela precisa de um ambiente facilitador para que este não se torne um luto complicado. A rede de apoio tem papel fundamental nesse processo, seja ela profissional ou pessoal, criando ambientes que favoreçam a expressão das emoções deste casal, e evitando frases como “vocês são jovens, logo terão outro bebê”, “ainda bem que foi no início!” “Deus logo mandará outro e vocês vão ficar felizes”. Absolutamente todas essas frases podem e devem ser substituídas por um – eu sinto muito! – junto com um abraço silencioso. Outro fator importante a se considerar são as alterações emocionais presentes nesse momento, já que é natural a mulher apresentar-se mais triste ou irritada, chorosa e sem ânimo. O que precisamos estar atentos é a frequência e o prejuízo que essa mãe terá na vivência desses sintomas. Não há um tempo pré-determinado do quanto é “normal” sofrer por essa perda. Cada mulher terá seu tempo de acolher e resignificar esse dor, e é imprescindível que exista espaço para que ela possa externalizar isso sem sentir-se julgada, sem a impressão de que ela já deveria ter superado. O casal também precisa de um cuidado especial neste momento. Muitos pais, com o intuito de proteger a mãe, guardam sua dor ou se protegem negando alguns acontecimentos, podendo assim também apresentar alterações emocionais, fator que pode desequilibrar o casal e causar conflitos justamente no momento em que mais precisamos que ambos estejam conectados para compartilharem dessa vivência. Mães enlutadas falam também da dificuldade que têm de encontrar pessoas que as escutem. Geralmente elas querem sim falar do filho, das experiências vividas, porque há um receio muito grande de que as lembranças deles se apaguem. O obstáculo que mais encontram é a falta de habilidade que temos de acolher e falar sobre morte, principalmente neste contexto em que esperamos a vida. Por isso, é essencial que possamos entender que ela precisa de escuta, não necessariamente de palavras neste momento. Estejamos presentes e sensíveis aquelas histórias, isso irá validar seus sentimentos. Por isso, não menos importante, encoraje essa mulher a buscar auxílio emocional. Essa dor merece ser sentida e cuidada, de preferência por um profissional capacitado na área perinatal.

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