Texto: Thaís Franco Pereira Marques / CRP: 08/17474

Eu não sei com foi sua experiência com a gestação e com o nascimento do seu bebê. Não sei quanto tempo você esperou por isso ou se de fato, desejou esse momento. Embora eu não saiba detalhes da sua vida e da sua história, imagino que esteja vivendo um momento intenso, com os sentimentos da flor da pele.

Não sei se você sabe, mas na nossa sociedade e cultura, a maternidade é romantizada e pouco se fala sobre as dificuldades vivenciadas neste momento. O fato é que o período perinatal (gestação, parto e puerpério) é um momento de crise, de regressão e abertura emocional, em que há uma série de transformações – não somente físicas, mas também psíquicas, que levam à reconstrução da identidade da mulher e que podem ocasionar sentimentos ambivalentes, especialmente agora, no puerpério. Assim, é esperado que, após o bebê nascer, você sinta um misto de alegria, angústia e inadequação, se sinta sozinha mesmo quando há pessoas por perto – é o “famoso” baby blues.

Preciso te dizer que essa regressão emocional, juntamente com todos esses sentimentos, é o que te coloca em contato com seu bebê de uma forma muito singular e primitiva, e é o que se faz necessário para cuidar de um ser tão frágil, vulnerável e dependente. Além disso, estar em contato com seu bebê nesse momento, é também, estar em contato com você mesma e assim, você se vê obrigada – consciente ou inconscientemente – a encarar o seu próprio eu, sua vida, seus desejos e seu coração.

Acredito que uma das maiores dificuldades desse momento está exatamente aí: aprender a ouvir o próprio coração e atender (com amor e cuidado) seus próprios desejos, suas demandas, assim como o bebê o faz e nos ensina de forma tão verdadeira e sincera, mas que é tão difícil para nós, por já termos desaprendido há muito tempo.

Durante o puerpério é importante não ter padrões a serem cumpridos, não seguir o “tempo do relógio” (cronológico), mas sim o tempo da díade: seu e de seu bebê. Se permita entrar em contato com seus sentimentos, com seus medos, frustrações, expectativas, desejos e com sua história. Pode haver muito sentimento de perda e muito choro sim, não podemos negar, mas há também possibilidade de se reencontrar e se redescobrir.

Entenda que o puerpério é excesso e exceção. É chance e oportunidade! É uma abertura preciosa a conteúdos cheios de significados, relacionados com a criança que você foi e com a mãe/mulher que você será.  Durante esse período o acompanhamento psicológico pode contribuir muito, já que, devido a regressão e abertura emocional pelo qual a mulher passa,  alguns conteúdos internos (psíquicos) da sua história, que estão diretamente relacionados com os sentimentos emergidos com a chegada do bebê, podem ficar mais “acessíveis” e, consequentemente, a elaboração (compreensão e reorganização) dos mesmos também. Por isso, o puerpério é uma grande oportunidade para o autoconhecimento e, logo, para uma vida mais leve e verdadeira.

É importante esclarecer que, embora os sentimentos ambivalentes sejam esperados e comuns durante o período perinatal, é necessário muito cuidado para não minimizar, ignorar ou negar a existência deles, pois, se não forem tratados de forma adequada, podem se agravar e desenvolver posteriormente, um quadro patológico. Também é necessário cuidado para não confundir o baby blues com a depressão perinatal, já que os sentimentos em ambas situações podem ser muito semelhantes. De qualquer forma, se houver dúvida ou se houver angústia, tristeza ou ansiedade em excesso, o mais adequado é procurar um psicólogo perinatal para realizar uma avaliação/acompanhamento e, se necessário, outros encaminhamentos.

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