Texto: Elida Garbo Guedes – CRP: 06/130417
A notícia de uma gravidez dá o pontapé inicial a uma série de imaginações sobre o bebê: terá os olhos da mãe? O cabelo do pai? Será chorão como o primo? A cada fase da gestação novos itens vão sendo acrescentados a essa fantasia sobre o bebê, esse processo é completamente natural e comum a todas as famílias gestantes. Não só características físicas são imaginadas, são desejadas também características comportamentais e de personalidade fazendo com que a identidade desse bebê comece a se moldar.
Toda uma rede de histórias é construída em torno do ser mãe e pai desse bebê imaginado, o quarto, suas roupinhas, local de troca de fralda, cadeirão para amamentação, a gestante se imagina desempenhando esse papel e a partir de sua experiência pessoal se sente mais ou menos preparada para esse momento. Muitas se dedicam a leituras sobre gestação, troca de experiências com familiares e amigas buscando se preparar. Porém o bebê real chega e é diferente do imaginado!
Para além de características físicas que podem ser mais ou menos parecidas com o desejado, esse bebê é um pequeno ser único, com vontades e necessidades a serem descobertas e sanadas por seus pais. Os desafios se intensificam quando esse casal se percebe em casa sozinho com o bebê.
Desafios com a amamentação, cuidados com o coto umbilical, troca de fraldas, rotina de sono a se construir. Em meio a dificuldades naturais de adaptação que serão comuns a todas as famílias, a mulher vivencia um período complexo chamado Puerpério.
O puerpério é o período de tempo no qual o corpo físico da mulher está se reorganizando após gerar um bebê, seus órgãos vão se reorganizar, seus hormônios vão se ajustar agora focados na produção de leite, esse período pode durar até 6 meses. Podemos inserir nesse contexto a recuperação da cesárea, caso essa seja a via de parto.
Mas além do aspecto físico o puerpério tem um importante aspecto emocional, a adaptação dessa mulher com sua identidade pessoal própria ao novo papel social, ser mãe, portanto esse processo pode ser mais longo, durando até 24 meses. Essa adaptação envolverá todo o processo de aprendizagem do exercício da maternidade para com esse bebê real que está em seus braços.
A mulher está nesse período mais suscetível a adoecer emocionalmente, pois são inúmeros os desafios a enfrentar, a figura do pai é essencial nesse período para com ela compartilhar das dificuldades e aprenderem juntos a cuidar desse bebê, uma boa rede de apoio será fundamental para acolher essa família e oferecer suporte em atividades básicas da casa como higienização, preparar refeições.
No momento mais intenso de dificuldades com o bebê é importante que esse casal, dê um passo para trás, respire fundo, olhe com atenção para o bebê e reflita qual necessidade ele está vivendo e tentando comunicar, esses segundos podem ser milagrosos, pois pouco a pouco as necessidades serão identificadas e poderão ser sanadas. É importante lembrar que o bebê também está aprendendo a se comunicar e o caminho será construído.
A relação com o bebê real será construída no dia a dia, permeada por dúvidas e inseguranças, mas será em conjunto, pais e bebê, que cada um dos desafios será superado. Com o tempo uma rotina irá surgir, os choros serão identificados e o período mais desafiador do puerpério passará.